
- Gasolina da Petrobras custa 10% a mais que no exterior, segundo Abicom.
- Preço interno está R$ 0,28 acima da paridade de importação.
- Diesel segue mais barato no Brasil, mas pode ter reajuste de R$ 0,14.
A gasolina vendida pela Petrobras atingiu nesta semana o maior prêmio sobre os preços internacionais desde a adoção da nova política de combustíveis, em 2023. O litro nas refinarias está, em média, R$ 0,28 mais caro do que a paridade de importação, de acordo com dados da Abicom e da ANP.
A estatal afirma que o momento é de alta volatilidade no mercado global e que sua estratégia busca estabilidade, mesmo sem seguir integralmente o preço externo. Porém, analistas alertam que essa diferença pressiona os consumidores e reabre espaço para importações privadas.
Política de preços em xeque
Quando lançou a política para “abrasileirar” os combustíveis, o governo Lula prometeu que a gasolina e o diesel ficariam abaixo da cotação internacional. No início, a queda do petróleo no exterior ajudou: em 2023, a Petrobras reduziu em 17,5% o preço da gasolina e em 27,2% o do diesel.
Nos últimos meses, porém, a dinâmica se inverteu. Com a queda sazonal do petróleo após o verão no Hemisfério Norte, a gasolina internacional recuou, mas a estatal manteve os valores estáveis no Brasil. O último corte foi em junho, de 5,6%.
Assim, a diferença entre mercado interno e externo aumentou, contrariando o discurso inicial do governo. A Abicom calcula que, para se alinhar à PPI, seria necessário um reajuste para baixo de R$ 0,28 por litro.
Impactos no mercado e nas bombas
A gasolina brasileira, 10% mais cara que a internacional, abriu uma janela de importações para companhias privadas. No polo de Itacoatiara (AM), por exemplo, a diferença chega a 13% em relação ao preço externo.
Já o diesel segue em situação oposta. O combustível é vendido no Brasil 4% abaixo da paridade de importação, o que fecha espaço para importadores. A Petrobras não altera esse preço desde maio.
No varejo, os ajustes têm sido pequenos. A gasolina subiu R$ 0,01 por litro e o diesel R$ 0,02 por litro desde agosto, com impacto da maior mistura de biocombustíveis.
Perspectivas para os combustíveis
O governo e a Petrobras tentam equilibrar o discurso político de preços acessíveis com a necessidade de manter margens de lucro e dividendos. A empresa reforça que não antecipa decisões de reajuste, mas a pressão sobre a gasolina deve aumentar caso o petróleo siga volátil.
Além disso, a recente decisão da Opep+ de elevar a produção em volume abaixo do esperado pode sustentar preços mais altos da commodity, dificultando um corte doméstico.
No caso do diesel, a defasagem menor pode levar a uma recomposição em breve, com alta de até R$ 0,14 por litro, segundo cálculos da Abicom.