
- Ações da Marfrig e BRF recuam após otimismo inicial com possível fusão e agravamento da crise sanitária
- Gripe aviária atinge granja no RS, e 20% das exportações de frango já sofrem impacto com embargos internacionais
- BRF é a mais vulnerável, enquanto JBS deve resistir melhor à crise graças à sua diversificação global
As ações da Marfrig (MRFG3) mergulharam cerca de 6,50%, negociadas a R$ 23,44 ao meio-dia desta segunda-feira (19), revertendo boa parte dos ganhos de 21,35% registrados na última sexta-feira.
O recuo ocorre logo após a euforia provocada pelo anúncio da possível incorporação da BRF (BRFS3), operação que poderia consolidar um dos maiores grupos do setor de proteínas do país.
Os papéis da própria BRF também desabaram, com queda de 2,84%, sendo negociados a R$ 2,19. O mercado reagiu com cautela, não apenas por dúvidas sobre a fusão, mas principalmente devido à confirmação de um caso de gripe aviária de alta patogenicidade (HPAI) em uma granja comercial no Rio Grande do Sul — o primeiro do tipo já registrado no Brasil.
A notícia acendeu o alerta no mercado. Vários países suspenderam imediatamente as importações de carne de frango brasileira, afetando cerca de 20% do volume total exportado.
A China, maior importadora da carne de frango do Brasil, já havia proibido compras do estado gaúcho desde junho de 2024. Ainda assim, a nova confirmação levanta o risco de proibições mais amplas.
Gripe aviária muda o jogo no setor de proteínas
O Bradesco BBI classificou o episódio como negativo para todo o setor de proteínas. A principal incerteza, segundo o banco, é como os parceiros comerciais internacionais vão reagir nos próximos dias. A depender da extensão das proibições, os prejuízos podem se agravar rapidamente.
Apesar disso, o BBI lembrou que o Brasil teve mais de dois anos para desenvolver protocolos regionais de contenção desde o primeiro registro da HPAI em aves silvestres.
Além disso, o surto da Doença de Newcastle em 2023 mostrou que o país consegue limitar os impactos com agilidade — especialmente ao restringir os embargos apenas às áreas afetadas.
O Rio Grande do Sul representa cerca de 14% das exportações nacionais de carne de frango, sendo o terceiro maior exportador do país. As empresas podem, teoricamente, realocar parte da produção para outros estados, o que já ocorreu com sucesso no ano passado. No entanto, o temor de disseminação da doença para outras granjas comerciais ainda paira sobre o setor.
BRF pode ser a mais afetada
Entre as companhias cobertas pelo BBI, a BRF aparece como a mais exposta, dada sua forte dependência da produção nacional de frango. Para os analistas, o episódio reforça a necessidade de diversificação de investimentos em regiões menos sensíveis a embargos sanitários, como o Oriente Médio — e até em outras proteínas, como a bovina.
Já no caso da JBS (JBSS3), a Seara, sua subsidiária de alimentos processados, também sofrerá impacto, mas a diversificação geográfica e de portfólio deve atenuar os efeitos negativos. A JBS permanece, segundo o BBI, como a principal recomendação do setor, com visão neutra para BRF.
Em meio à turbulência causada tanto por riscos sanitários quanto por movimentos corporativos, os investidores devem acompanhar com atenção os desdobramentos da gripe aviária e os próximos passos na possível fusão entre Marfrig e BRF. Enquanto isso, o mercado adota uma postura defensiva e reavalia o risco no setor.