As novas medidas fiscais anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, geraram forte reação nos mercados nesta quarta-feira (27). O dólar futuro com vencimento em dezembro chegou à marca de R$6,002 na máxima intradia, enquanto no mercado à vista a moeda americana registrou alta de 1,18%, sendo negociada a R$5,9815. Os juros futuros também subiram significativamente, com alta de até 25 pontos-base nos vértices intermediários e longos, refletindo o aumento da aversão ao risco por parte dos investidores.
A tensão começou a arrefecer quando o Tesouro Nacional anunciou, de forma antecipada, os leilões de Letras do Tesouro Nacional (LTN) e NTN-F previstos para a próxima semana. A iniciativa buscou conter a volatilidade, mas não eliminou as preocupações sobre o equilíbrio fiscal do país.
Impacto das medidas no equilíbrio fiscal
O governo prevê uma redução de despesas na ordem de R$30 bilhões em 2025 e R$40 bilhões em 2026, de acordo com Haddad. No entanto, analistas e investidores seguem céticos quanto à eficácia dessas ações para sustentar o arcabouço fiscal. Um dos principais pontos de crítica é a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$5 mil.
A Warren Investimentos estima que essa medida pode gerar um custo de R$45,8 bilhões, enquanto a consultoria Tendências destaca que apenas 15% da população continuaria pagando IR, comprometendo seriamente a receita federal.
“A decisão de elevar a faixa de isenção sem compensações claras pressiona ainda mais a sustentabilidade fiscal”
afirmou Alessandra Ribeiro, economista da Tendências ao Broadcast Estadão.
Opiniões do mercado e riscos fiscais
Alejo Czerwonko, diretor de Investimentos para Mercados Emergentes das Américas da UBS Wealth Management, ao portal Broadcast do Estadão, as ações anunciadas refletem uma falta de compromisso claro com a responsabilidade fiscal. “O pacote deixa a dívida pública brasileira em uma trajetória insustentável. O timing é inoportuno, considerando a baixa atratividade dos países emergentes no momento”, avaliou.
Além disso, a ampliação de despesas bilionárias pelo governo Lula, como com a PEC da Transição, sem contrapartidas adequadas, agravou a percepção de risco fiscal. Apesar dos esforços para recompor as receitas, o mercado continua cobrando maior foco em contenção de gastos e reformas estruturantes.
Reforma tributária e narrativa do governo
Haddad também aproveitou a coletiva para esclarecer que a reforma tributária, em fase final no Senado, não tem relação direta com as medidas anunciadas, mas é crucial para modernizar o sistema fiscal brasileiro. Ele enfatizou que a reforma busca simplificar a tributação sem aumentar a carga tributária.
Contudo, a comunicação do governo sobre o equilíbrio fiscal tem enfrentado críticas. “O mercado precisa de mais clareza e previsibilidade. As mensagens desencontradas dos últimos dias criaram ruído e ampliaram a percepção de risco”, pontuou um gestor de recursos que preferiu não se identificar.
O desafio do governo é conciliar medidas populares, como a isenção do IR, com a necessidade de ajuste fiscal. Especialistas alertam que sem reformas amplas e um esforço coordenado para conter despesas, a meta de zerar o déficit primário em 2024 ficará cada vez mais distante.
Além disso, o aumento dos juros futuros pode encarecer ainda mais o custo da dívida pública, aprofundando os problemas fiscais. “Estamos em um momento crítico em que decisões erradas podem comprometer a trajetória econômica do país nos próximos anos”, alertou Czerwonko.