Setor pressionado

Movida (MOVI3) e Localiza (RENT3): nova isenção do IPI pode esmagar lucros das locadoras? Entenda impactos

XP Investimentos vê impacto neutro no valuation, mas aponta desafios no curto prazo

Apoio

locadoras localiza unidas movida
locadoras localiza unidas movida

A semana termina tensa para os acionistas das gigantes de aluguel de carros. Movida (MOVI3) e Localiza (RENT3) foram duramente penalizadas pelo mercado após o Valor Econômico revelar que o governo federal prepara um novo programa de incentivo à venda de veículos populares, por meio da redução do IPI para carros de entrada. A reação foi imediata: Movida despencou 14% e Localiza caiu 7% no pregão da última quinta-feira (26).

O temor do mercado é de como essa iniciativa impacta o lucro dessas companhias.

E agora, Movida e Localiza?

A XP Investimentos avaliou o impacto para o setor e sinalizou que, embora o efeito sobre o valuation de longo prazo seja neutro, os resultados de curto prazo podem sofrer pressão.

“A eventual redução no valor do estoque de veículos deve ser em grande parte compensada pela queda nos preços de aquisição”, destaca a XP.

“No entanto, os resultados de curto prazo podem sofrer pressão adicional devido ao aumento das despesas com depreciação, adiando a recuperação do potencial de lucro do setor.”

A Movida, segundo os analistas, deve sentir mais o impacto do que a Localiza.

“Nossa análise indica uma maior exposição ao risco nos resultados da Movida em relação à Localiza, devido à sua maior participação de veículos de entrada — cerca de 70%, contra 50% da Localiza”, afirma a corretora, com base na composição da frota de seminovos como proxy.

Outro fator que agravou o tombo da Movida foi a menor liquidez do papel, o que amplifica a volatilidade em momentos de aversão a risco.

O programa

Batizado de “Carro Sustentável”, o programa será lançado junto com o novo IPI Verde, e deve beneficiar automóveis 1.0 flex com potência inferior a 90 cavalos, desde que produzidos no Brasil.

O benefício deve valer até o final de 2026 e poderá ser aproveitado por pessoas físicas e jurídicas, ou seja, também por locadoras.

Diferente do que ocorreu em 2023, quando as locadoras ficaram de fora dos incentivos, agora elas podem se beneficiar diretamente — mas isso não significa ausência de riscos.

O que está em jogo com o “Carro Sustentável”?

O plano do governo, baseado no programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação), busca estimular a indústria nacional, mas com foco em sustentabilidade e eficiência energética. Os critérios incluem:

  • Potência inferior a 90 cv
  • Eficiência energética e reciclabilidade
  • Ser produzido no Brasil
  • Combustível flexível (etanol/gasolina)

Ou seja, veículos 100% elétricos, que hoje são todos importados, não serão beneficiados.

Com isso, o governo quer baratear os carros mais populares, sem desincentivar a transição ecológica. Mas para as locadoras, o desafio é como lidar com o impacto contábil da depreciação acelerada dos estoques atuais, caso o mercado reprecifique os veículos de entrada com base nos novos incentivos.

O que o investidor deve observar

Apesar da queda acentuada nas ações, a XP não mudou sua recomendação e vê equilíbrio entre riscos e oportunidades.

Enquanto a Movida deve enfrentar mais volatilidade, a Localiza, com uma frota mais diversificada e musculatura financeira maior, tende a navegar com mais estabilidade — embora também esteja exposta ao efeito contábil dos estoques e à pressão de margens.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.