
A Natura Cosméticos deixou para trás o ticker NTCO3 e passou a operar no Novo Mercado da B3 nesta quarta-feira (2), sob o código NATU3, retomando ao usado em seu IPO em 2004.
A mudança ocorre após a incorporação da controladora Natura&Co (NTCO3), concluída em 1º de julho de 2025. Com isso, os acionistas de NTCO3 receberam uma ação NATU3 para cada ação detida.
Segundo o BTG Pactual, essa nova estratégia deixa para trás o ecossistema multirregional construído entre 2017 e 2019 e aposta com força em nos ativos mais rentáveis na América Latina.
A análise do banco, que participou do Investidor Day, destaca um tom mais maduro e focado por parte da gestão. “A administração reafirmou seu compromisso de focar o grupo em ativos de alto ROIC e geradores de caixa”, escreveram os analistas.
Menos Avon, mais Brasil (e vizinhos)
A recuperação da Avon International continua sendo um dos pontos críticos do plano — e, embora ainda não haja um prazo oficial para sua venda, a expectativa é que consuma menos caixa em 2025 do que em 2024.
A segunda fase da reestruturação (batizada de Onda 2) está em implementação na Argentina e no México, com previsão de conclusão no segundo semestre deste ano.
“O objetivo é claro: equilibrar o crescimento da receita líquida com geração de caixa, reduzindo os riscos de execução”, afirma o BTG.
O banco lembra que o comando da Avon na América Latina já foi regionalizado, e o Brasil se tornou o epicentro das decisões estratégicas.
Uma potência silenciosa
Em meio à reestruturação, a Natura mostra que ainda tem fôlego — e números robustos. A companhia atinge 61% dos lares brasileiros e 14,1% do mercado de cuidados pessoais, com marcas fortes também em países hispânicos.
Sua base de consultoras passou de 1,8 milhão em 2016 para 3,2 milhões em 2024, sendo 75% delas ativas digitalmente.
Esse avanço tecnológico tem dado resultados: a produtividade subiu 17%, enquanto canais como vendas pelo WhatsApp, comércio via TikTok e recomendações por IA aumentam conversão e engajamento.
A fintech EmanaPay, por exemplo, já promove retenção e independência financeira entre consultoras, ampliando a fidelidade e o poder de compra dentro da própria rede.
Inovação com DNA latino-americano
Com mais de 300 patentes e o maior centro de P&D em cosméticos do Hemisfério Sul, a Natura quer ser sinônimo de inovação. Produtos como o perfume Rose Alba e o hidratante Ekos Concentrado mostram a fusão entre ciência, agilidade e biodiversidade regional.
A empresa reduziu em até 40% o tempo de lançamento de novos produtos e está mirando crescimento nos segmentos de cuidados com cabelos, pele e proteção solar.
“A Natura tem um arsenal único de ingredientes nativos e perfumistas próprios. A inovação é uma alavanca clara para retomada do crescimento com margem”, reforça o BTG.
Cautela com custos e alocação de capital
Apesar do otimismo com a nova fase, o BTG ainda prega cautela. A reestruturação traz custos que continuarão em 2025, embora em níveis semelhantes aos de 2024.
Há também uma mudança contábil, com investimentos em software passando de capex para opex, o que pressiona os resultados de curto prazo.
A boa notícia é que os indicadores vêm melhorando: margem EBITDA recorrente no Brasil de 22,6%, expansão de 570 pontos-base na margem bruta e conversão de 57% do EBITDA em fluxo de caixa livre no ano passado.
A alavancagem está em 1,27x EBITDA, sem grandes vencimentos antes de 2027, abrindo caminho para possíveis dividendos mais generosos no futuro.
A visão do BTG: “Ainda é cedo para mudar o tom”
Mesmo com o avanço da reestruturação e os sinais claros de disciplina, o BTG mantém recomendação neutra para as ações da Natura:
“Tem sido uma jornada difícil. A gestão demonstrou esforços bem-vindos para simplificar a estrutura da empresa, mas acompanharemos de perto o progresso antes de adotar uma visão mais positiva sobre as ações”, disseram os analistas, lembrando que NTCO3 acumula queda de 12% no ano.