
- Cyrela (CYRE3) e Eztec (EZTC3) tendem a liderar o novo ciclo do crédito imobiliário.
- O governo ampliou o teto do SFH e liberou 100% dos recursos da poupança para crédito.
- O sucesso do modelo depende da confiança dos bancos e da liquidez do SBPE.
O novo crédito imobiliário anunciado pelo governo promete transformar o mercado de construção civil. A medida reformula o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e deve impulsionar empresas voltadas à classe média e alta, como Cyrela (CYRE3) e Eztec (EZTC3), segundo análises de Goldman Sachs e Bradesco BBI.
Além disso, a proposta dá mais liberdade aos bancos para aplicar os recursos da poupança. Com isso, o setor espera um novo ciclo de crescimento e melhora na liquidez do crédito habitacional até 2027.
Mais crédito e teto ampliado
O governo decidiu flexibilizar as regras do SBPE, ampliando o espaço para novos financiamentos. Antes, 65% dos depósitos da poupança precisavam ser aplicados em crédito imobiliário, 20% iam para o compulsório do Banco Central e 15% permaneciam livres.
Agora, 100% dos recursos poderão ser usados em novos financiamentos, desde que os bancos gerem novos contratos de crédito. A mudança será gradual até 2027, com 2026 servindo como fase de teste.
Outra alteração importante é o aumento do teto dos imóveis financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que sobe de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões. Ao mesmo tempo, a Caixa Econômica Federal elevou o limite de financiamento (LTV) de 70% para 80%, ampliando o acesso de famílias à casa própria.
Construtoras na dianteira
Para o Goldman Sachs, as mudanças favorecem empresas como Cyrela e Eztec, que atuam nos segmentos de média e alta renda. O banco acredita que o novo modelo pode estimular lançamentos e ampliar margens nas principais capitais do país.
A Cyrela, por exemplo, adota uma estratégia “barbell”, combinando projetos para baixa e alta renda. Essa abordagem, segundo o Goldman, ajuda a equilibrar resultados e sustentar o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE).
Enquanto isso, o Bradesco BBI avalia que o modelo pode facilitar o crédito para mutuários de renda média, embora ainda veja incertezas sobre a adesão dos bancos privados. “Sem a participação das instituições, o modelo pode reduzir a oferta, em vez de ampliá-la”, alertou o relatório.
Desafios e expectativas para o setor
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou a proposta como uma modernização do financiamento habitacional. Segundo ele, o objetivo é canalizar “o dinheiro mais barato da economia” para a construção civil e fortalecer a classe média.
Durante o anúncio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou que o projeto gera empregos e amplia o acesso à moradia. Ademais, o governo também criou uma linha de crédito para reformas, voltada a famílias com renda de até R$ 9,6 mil, com juros entre 1,17% e 1,95% ao mês.
Apesar do otimismo, o mercado ainda aguarda a reação dos bancos privados. O SBPE sofre com saques recorrentes, resultado da diferença entre o rendimento da poupança e a Selic, hoje em 15% ao ano. Por isso, a adesão das instituições e a estabilidade dos depósitos serão decisivas para o sucesso do novo modelo.