
- Goldman Sachs alerta que ativos brasileiros poderiam subir mais, mas o fiscal trava o potencial.
- Banco Central mantém Selic em 15%, controlando inflação, mas com impacto limitado pela dívida.
- Risco de 2026: eleições podem elevar gastos e ampliar turbulências no mercado.
O Brasil perdeu a chance de aproveitar um cenário internacional positivo para impulsionar seus ativos. A avaliação é de Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina no Goldman Sachs.
Segundo ele, o Banco Central tem mantido a política monetária em curso, com juros altos que controlam parte da inflação. No entanto, a falta de disciplina fiscal torna a missão “quase impossível” e restringe o potencial da Bolsa e do câmbio.
Fiscal trava ganhos do país
Ramos reconheceu que a comunicação recente do BC soou mais dura ao manter a Selic em 15% ao ano, sem abrir espaço imediato para cortes. Para o economista, a decisão mostra consistência.
Mesmo assim, ele afirmou que a política monetária sozinha não basta. A trajetória crescente da dívida pública enfraquece os efeitos do juro alto e obriga o Banco Central a atuar em condições muito mais difíceis.
“Infelizmente o Brasil não fez a lição de casa do ponto de vista fiscal para capitalizar um cenário que poderia ser extraordinariamente favorável”, disse.
Dólar e Ibovespa mostram fôlego
O dólar já caiu quase 15% contra o real em 2025, movimento reforçado pela queda global da moeda americana. Esse fluxo também ajudou o Ibovespa a acumular 22% de alta no ano, apoiado na entrada de capital externo.
O alívio cambial reduziu parte da pressão inflacionária, mas o ganho é considerado “modesto” diante do potencial desperdiçado. Ramos afirmou que a confiança dos investidores poderia ser muito maior caso o fiscal estivesse em ordem.
Nos Estados Unidos, os cortes do Federal Reserve fortalecem o real. O Goldman Sachs projeta mais duas reduções de juros no país ainda neste ano, o que tende a favorecer mercados emergentes como o Brasil.
Eleições de 2026 preocupam
Ramos também alertou para o risco de aumento de gastos públicos às vésperas das eleições presidenciais. Ele acredita que o governo buscará estimular a economia com crédito público e incentivos a estados e municípios.
Apesar disso, não prevê uma “avalanche” de despesas, já que uma reação negativa do mercado poderia ser contraproducente para a própria reeleição.
O economista lembrou ainda que o exemplo da Argentina, com Milei, mostra como ajustes fiscais são politicamente caros. Para ele, qualquer governo eleito em 2026 no Brasil terá de encarar uma agenda fiscal “extremamente complicada” e sem espaço para adiamentos.