
- Ouro atinge recorde de US$ 4.190 por onça-troy com alta de 0,38%, impulsionado pela disputa EUA-China.
- Especialistas veem o metal como proteção, mas alertam que ele não gera renda e tem volatilidade elevada.
- Investidores aguardam discurso de Jerome Powell, que pode definir o rumo do mercado de metais preciosos.
O ouro voltou a brilhar nos mercados internacionais. Os contratos futuros do metal atingiram máxima intraday histórica nesta terça-feira (14), impulsionados pela disputa tarifária entre Estados Unidos e China e pelas apostas de novos cortes nos juros americanos.
Às 8h08 (de Brasília), o contrato para dezembro na Comex subia 0,38%, cotado a US$ 4.149,40 por onça-troy, depois de tocar o recorde de US$ 4.190,90. O movimento reforça o apetite por ativos de proteção, em um cenário de incertezas geopolíticas e fiscais.
O que está por trás do novo rali do ouro
A escalada do ouro ocorre em meio à combinação de risco político, inflação global persistente e expectativa de flexibilização monetária pelo Federal Reserve (Fed). Investidores aguardam o discurso de Jerome Powell, presidente do banco central americano, em busca de sinais sobre o ritmo da política monetária.
Nos bastidores, bancos centrais vêm ampliando suas reservas em ouro para reduzir a dependência do dólar. Além disso, há forte entrada de recursos em ETFs lastreados no metal, o que impulsiona ainda mais a cotação.
Especialistas afirmam que a tensão entre EUA e China e o shutdown do governo americano também têm contribuído para o salto do ouro, que subiu mais de 50% em 2025. “Os ataques de Trump à independência do Fed e ao Estado de direito deram impulso adicional às cotações”, avaliou Claudio Wewel, estrategista da J. Safra Sarasin.
Vale a pena investir em ouro agora?
Com o metal atingindo níveis recordes, o debate sobre investir em ouro voltou ao centro das atenções. O gestor Ray Dalio recomenda alocar até 15% do portfólio no ativo como forma de proteção em momentos de instabilidade.
Entretanto, o economista Raul Nogueira, da Valios Capital, alerta que o ouro “dificilmente multiplica o patrimônio”. Segundo ele, o ativo serve como seguro de carteira, mas não como motor de crescimento.
Para Paulo Cunha, CEO da iHub Investimentos, o ouro deixou de ser apenas um refúgio em crises e passou a ocupar espaço como realocação estratégica de longo prazo. Ele pondera, porém, que o movimento tende a ser irregular: “Os juros podem cair, o dólar enfraquecer e o ouro subir, mas haverá correções pelo caminho.”
Os riscos que o investidor deve considerar
Mesmo com os ganhos expressivos, o ouro não é unanimidade. O professor Bob Triest, da Northeastern University, lembra que o metal não gera renda passiva e depende fortemente da percepção de risco global.
No Brasil, o educador financeiro André Massaro reforça o alerta: “O ouro passou duas décadas em queda nos anos 1980 e 1990. Quem investe precisa ter paciência e entender que o ativo serve mais como escudo do que como motor de ganhos.”
Assim, o consenso entre especialistas é que o ouro deve ocupar uma fatia limitada da carteira, como ferramenta de diversificação e proteção. Por fim, o entusiasmo, dizem, deve ceder lugar ao equilíbrio.