
O relatório de empregos dos Estados Unidos, o Payroll, trouxe um alívio contido e uma dose de expectativa para os mercados globais nesta quinta-feira (3). Foram criadas 147 mil vagas de trabalho em junho, número acima das projeções de 110 mil, e o desemprego recuou de 4,3% para 4,1%.
Apesar do resultado positivo, o ritmo de criação de postos segue em desaceleração — um sinal que pode abrir espaço para cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed).
A leitura do mercado é de que a economia norte-americana ainda gera empregos, mas perde fôlego. Esse arrefecimento é, paradoxalmente, tudo o que os investidores queriam ver.
Quanto mais moderado o aquecimento da atividade, menor o risco inflacionário — e maior a chance de o Fed começar a cortar os juros mais cedo do que se esperava.
Renda e jornada: sinais mistos, mas controlados
Outro dado importante do Payroll, que reforça essa narrativa é o crescimento salarial. Os salários médios por hora subiram apenas 0,2% em junho (ou US$ 0,08), enquanto os salários do setor de produção e serviços não supervisionados cresceram 0,3%.
Na comparação anual, o avanço foi de 3,7% — um número consistente, mas sem pressões inflacionárias alarmantes.
Já a jornada de trabalho média no setor privado caiu ligeiramente, de 34,3 para 34,2 horas semanais, reforçando a ideia de que as empresas estão moderando a carga de trabalho diante de um cenário de menor dinamismo econômico.
Desemprego estrutural em foco
Apesar da queda na taxa geral de desemprego, a composição interna do mercado preocupa: aumentou o número de trabalhadores desanimados e o total de desempregados de longo prazo chegou a 1,6 milhão, representando mais de 23% dos desempregados.
Esses indicadores reforçam a tese de um mercado resiliente, porém desigual, e pressionam por uma política monetária menos restritiva.
E os juros?
A pergunta que move os mercados é: como o Fed vai reagir? Embora os números não sejam fracos o suficiente para acionar imediatamente um corte, eles aumentam a convicção de que o primeiro movimento pode acontecer nas próximas reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC).
Ainda não é um relatório que ‘obriga’ o Fed a cortar, mas sem dúvida vai alimentar o debate.
De olho nessa possibilidade, o dólar respondeu com alta: subia 0,37% logo após a divulgação, cotado a R$ 5,44, refletindo também o impacto global das expectativas de política monetária nos EUA.