Queda e risco

Análise: Petrobras (PETR4) trava na Bolsa e acende alerta sobre dividendos até 2030

Pressão do petróleo, fluxo de caixa menor e investimentos altos reduzem otimismo do mercado.

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  • Queda de –5,4% de Petrobras (PETR4) em 2025, contra um Ibovespa em alta superior a 30%
  • Plano 2026–2030 mantém Capex alto e reduz projeção de dividendos
  • Fluxo de caixa livre despenca –40% e pressiona dividendos futuros

A Petrobras (PETR3; PETR4) segue no campo negativo em 2025, mesmo com o Ibovespa em fortes máximas. A estatal acumula queda de –5,4%, afastando investidores que dependem do tradicional dividendo robusto da companhia.

Embora o setor de energia enfrente forte volatilidade global, a combinação entre petróleo fraco, caixa em queda e Capex elevado colocou a petroleira em um ciclo de incerteza que o mercado já chama de “limbo da Petrobras”.

Petróleo fraco e incertezas travam as ações

O petróleo opera perto de US$ 63, em queda de –15% no ano, pressionado pela maior oferta da OPEP+, pela expansão do xisto nos EUA e pelo risco de desaceleração em grandes economias. Assim, a sensibilidade da Petrobras ao preço da commodity manteve os papéis sob pressão.

Apesar disso, o ambiente global também refletiu tensões geopolíticas que ampliaram a volatilidade e reduziram previsibilidade, o que ampliou a cautela dos investidores. Como resultado, PETR3 e PETR4 ficaram de fora da alta expressiva do Ibovespa.

Além do petróleo, pesou a dúvida sobre a estratégia da gestão atual, especialmente porque o mercado esperava maior disciplina financeira para sustentar dividendos.

Resultados estáveis, mas caixa derrete

No 3T25, a Petrobras apresentou receita de US$ 23,4 bi (+0,5%), Ebitda de US$ 11,9 bi (+2,9%) e lucro de US$ 6 bi (+2,7%). Contudo, os números escondem o lado mais sensível da tese: o fluxo de caixa livre caiu cerca de –40% em 12 meses.

Petrobras mantém lucro forte, mas vê o fluxo de caixa cair 40%, pressionando dividendos e ampliando o impacto do aumento dos investimentos.
Petrobras mantém lucro forte, mas vê o fluxo de caixa cair 40%, pressionando dividendos e ampliando o impacto do aumento dos investimentos.

Como o dividendo ordinário distribui 45% do fluxo de caixa livre, o mercado já trabalha com pagamentos mais fracos. Ainda que a lucratividade permaneça elevada, a queda do caixa se tornou o principal ponto de alerta para quem mira retornos consistentes.

A pressão ocorre junto ao aumento dos investimentos, que avançaram quase +40% no mesmo período, reduzindo espaço para remuneração.

Plano 2026–2030 decepciona e mantém Capex elevado

O novo Plano Estratégico manteve US$ 109 bilhões em investimentos até 2030, praticamente o mesmo do plano anterior. Assim, o mercado interpretou a decisão como sinal de pouca disposição para maior eficiência ou contenção de gastos.

Além disso, a Petrobras projeta US$ 45–50 bilhões em dividendos ordinários de 2026 a 2030, abaixo do plano anterior. O pacote não menciona dividendos extraordinários, o que reduz a atratividade em um horizonte mais longo.

Outro ponto crítico envolve as premissas de preço do Brent. A companhia trabalha com US$ 70, bem acima da curva futura, estimada entre US$ 63 e US$ 67, o que aumenta o risco de frustração.

Valuation barato, mas incertezas limitam potencial

PETR4 negocia perto de 4x lucro e 3x Ebitda, múltiplos considerados baixos. Contudo, a assimetria está menor do que em períodos anteriores, já que a tese perdeu força com o Capex alto, fluxo menor e premissas otimistas.

Além disso, o ciclo eleitoral de 2026 adiciona volatilidade, principalmente porque a Petrobras costuma ser mais sensível ao ambiente político. Assim, mesmo investidores focados em dividendos precisam considerar o risco de cortes no futuro.

Por isso, apesar do valuation atrativo, analistas mantêm visão neutra, já que o cenário exige cautela e visibilidade limitada sobre execução operacional.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.