Visão de risco

Petrobras, Vale e Ambev: por que a Moody's revisou perspectiva para ''estável'?

Agência ajusta perspectivas após rever avaliação da dívida soberana do Brasil, refletindo o impacto do risco-país sobre grandes empresas nacionais

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A Moody’s alterou a perspectiva das notas de crédito da Vale (VALE3), Petrobras (PETR4) e Ambev (ABEV3) de ‘positiva’ para ‘estável’, após revisar a própria avaliação da dívida soberana do Brasil.

A decisão da agência reflete a relação direta entre o risco-país e a avaliação de crédito de empresas nacionais, mesmo aquelas com forte atuação internacional e estrutura financeira sólida.

No início de maio, a Moody’s reafirmou o rating do Brasil em “Ba1”, mas rebaixou a perspectiva de ‘positiva’ para ‘estável’ — sinalizando menor probabilidade de elevação da nota no curto prazo.

Em resposta, as empresas com notas vinculadas ao cenário soberano brasileiro também tiveram suas perspectivas ajustadas, mesmo que suas operações e fundamentos individuais permaneçam robustos.

Petrobras: sólido desempenho, mas ainda exposta ao risco soberano

A Petrobras teve sua nota mantida em “Ba1”, acompanhada de perspectiva estável. A agência destacou o bom desempenho financeiro da estatal e sua estrutura de capital robusta.

No entanto, por ser uma companhia controlada pelo governo e operar em um ambiente regulatório doméstico sensível, a nota segue limitada pelo risco do crédito soberano.

A Moody’s ressaltou que a Petrobras apresenta baixa dependência de financiamento local, exposição limitada ao câmbio e significativa geração de receitas em moeda forte — cerca de 30% vêm de exportações.

Apesar disso, o vínculo institucional com o governo impede uma dissociação total da nota do país.

Vale: gigante global com resiliência internacional

A mineradora Vale manteve sua nota em grau de investimento “Baa2”, agora com perspectiva estável.

A Moody’s reconheceu a força do portfólio de ativos da companhia, seu baixo custo operacional e a posição como uma das maiores produtoras globais de minério de ferro e níquel.

O fato de a Vale ter grande parte da receita atrelada à China e a economias desenvolvidas reduz a exposição direta ao ambiente macroeconômico e político do Brasil, o que ajuda a preservar sua classificação elevada.

Ainda assim, a agência entende que o rating precisa acompanhar, ao menos parcialmente, o risco soberano do país de origem.

Essa estabilidade da perspectiva considera também o compromisso da Vale com disciplina financeira, liquidez elevada e controle da alavancagem, mesmo diante de investimentos para diversificar sua atuação em metais básicos.

Ambev: escala, marcas fortes e estabilidade operacional

A Ambev também teve a nota “Baa2” reafirmada, com perspectiva revisada para estável.

Segundo a Moody’s, a companhia se destaca por sua ampla escala, atuação em 18 países e liderança de mercado em regiões como Brasil e Canadá.

Apesar da solidez operacional e financeira, mais de 50% do EBITDA (lucro antes juros, impostos e amortizações) da Ambev ainda vem do mercado brasileiro, o que justifica o alinhamento da sua perspectiva à do rating soberano.

Ainda assim, as métricas de crédito excepcionais da empresa e sua posição dominante no setor contribuem para a manutenção do grau de investimento.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.