
- 1 bilhão de barris de petróleo estão armazenados em alto-mar, o maior nível desde 2020.
- Superoferta global pressiona preços e ameaça lucros de exportadores e petroleiras.
- AIE prevê excedente de 4 milhões de barris por dia até 2026, marcando novo ciclo de abundância.
O mundo está afogado em petróleo. Mais de 1 bilhão de barris estão armazenados em petroleiros à deriva, segundo a consultoria Vortexa, marcando o maior volume desde a crise de 2020. O fenômeno evidencia a superoferta global e sinaliza que o ciclo de preços altos pode estar chegando ao fim.
A Agência Internacional de Energia (AIE) aponta que a produção de Estados Unidos, Brasil, Canadá e Guiana cresce rapidamente. Esse avanço já supera o ritmo da demanda, que desacelera com a adoção de veículos elétricos na China.. O resultado é uma frota recorde de navios à espera de compradores e um mercado cada vez mais pressionado.
Petróleo demais, compradores de menos
Segundo a AIE, os estoques mundiais estão aumentando a um ritmo de 1,9 milhão de barris por dia em 2025, e podem dobrar até 2026.
Essa expansão ocorre após a Opep+ acelerar a reversão dos cortes de produção, movimento liderado pela Arábia Saudita, que busca recuperar participação de mercado.
Além disso, cargas do Oriente Médio começam a ficar sem destino, e parte dos embarques previstos para novembro ainda não encontrou comprador.
Portanto, a situação remete ao colapso de 2020, quando a combinação de pandemia e guerra de preços entre sauditas e russos fez o petróleo despencar.
Preços do barril próximos de US$ 60
Os contratos futuros do Brent caíram para o menor nível em cinco meses, girando em torno de US$ 60 por barril.
Além disso, a curva de preços do petróleo inverteu: o padrão de backwardation, típico da escassez, deu lugar ao contango, que indica excesso de oferta, ou seja, o preço de entrega imediata está menor do que o dos contratos futuros.
Analistas da Bloomberg e da IEA afirmam que essa virada marca um novo ciclo de abundância no petróleo. O movimento pode reduzir a inflação global de combustíveis e responder à pressão política de Donald Trump por gasolina barata.
Entretanto, ela pressiona produtores como os EUA, cuja produção de xisto já dá sinais de enfraquecimento, e a Arábia Saudita, que enfrenta déficits fiscais crescentes.
O novo mapa da oferta mundial
De acordo com projeções da AIE, o mundo pode chegar a um excedente de quase 4 milhões de barris diários em 2026, o maior desde o início da série histórica.
Os dados da Bloomberg mostram que, desde abril, o volume de petróleo em trânsito subiu de 1 bilhão para 1,2 bilhão de barris, o maior desde a pandemia.
Enquanto isso, os Estados Unidos acumulam estoques pelo terceiro mês seguido, e operadores disputam espaço em tanques de armazenamento em Cushing, Oklahoma, principal polo de referência de preços.
A China, por outro lado, absorveu parte do excesso global ao estocar barris baratos para suas reservas estratégicas, o que ajudou a retardar a percepção de crise.
Perspectivas e riscos
Apesar do pessimismo, algumas casas acreditam que o mercado possa se reequilibrar antes do previsto. A EIA (agência de energia dos EUA) projeta que a produção americana pare de crescer em 2026, enquanto o Morgan Stanley prevê novos cortes da Opep+ caso o barril caia abaixo de US$ 55.
As grandes tradings, como Gunvor, Vitol e Trafigura, estimam que os preços podem cair temporariamente para US$ 50 no próximo ano, mas devem se recuperar para US$ 60 até 2027, à medida que a demanda volta a subir.
“Estamos entrando em um mercado diferente, mais abundante e volátil”, afirmou Torbjorn Tornqvist, CEO da Gunvor Group, em entrevista à Bloomberg. “Desta vez, há fundamentos mais sólidos para a narrativa de excesso de oferta.”