
- Megaoperação da PF e da Receita incluiu fintechs e aumentou a preocupação com reputação e confiança
- Receita publicou norma que obriga fintechs a seguir mesmas regras aplicadas aos grandes bancos
- Setor enxerga que regulação pode frear no curto prazo mas sustentar inovação no longo prazo com mais segurança
A última semana foi de turbulência para as fintechs brasileiras. De um lado, a Polícia Federal e a Receita Federal deflagraram uma megaoperação em oito estados, mirando redes de combustíveis, fundos e empresas digitais. De outro, a Receita publicou a norma que obriga as fintechs a seguirem as mesmas regras de transparência impostas aos grandes bancos.
O resultado imediato foi uma mistura de apreensão e incerteza. Investidores e empreendedores passaram a se questionar sobre os efeitos na reputação das empresas e sobre os ajustes necessários para seguir inovando sem esbarrar nas novas exigências regulatórias.
Impactos imediatos da operação
Segundo Ricardo Toledo, diretor da vertical de negócios fintech da ACATE, operações como a realizada pela PF colocam em xeque a imagem de companhias sérias. Nesse sentido, ele lembra que investidores podem recuar diante da suspeita de envolvimento de fintechs em esquemas ilícitos, ainda que a maioria das empresas atue de forma correta.
Ademais, para Toledo, é papel das entidades setoriais fornecer apoio e dar segurança ao ecossistema. Ele defende que o setor discuta riscos controlados e construa mecanismos de confiança.
“Um ambiente inovador sempre terá riscos, mas também precisa transmitir segurança”, afirma.
Novas regras da Receita
As fintechs também enfrentam mudanças profundas no campo regulatório. A Receita determinou que empresas de pagamentos e crédito digital sigam as mesmas normas do Sistema Financeiro Nacional, com obrigações de transparência e relatórios detalhados.
Além disso, Toledo considera que a medida era esperada e pode ser positiva no longo prazo. “Já era hora das fintechs estarem inseridas no mesmo ambiente dos bancos”, diz.
Ele ressalta, no entanto, que a adaptação exigirá custos, esforço e mudanças nos processos, o que pode reduzir a velocidade da inovação em curto prazo.
O desafio da inovação regulada
Apesar do choque inicial, Toledo lembra que regulação também traz confiança. Ele compara o sistema financeiro a um carro em alta velocidade: “o que te impede de acelerar demais é a mesma coisa que te dá segurança para acelerar, a regulação”.
Ademais, para ele, o Brasil continua sendo referência em inovação financeira, com ferramentas como o Pix e o Open Finance, e ainda há espaço para expansão global.
Por fim, Santa Catarina, com mais de 120 fintechs ligadas à ACATE, mostra como o ecossistema pode seguir crescendo em harmonia com reguladores.