Jogo duro

Pix na mira: indústria brasileira rebate tarifaço dos EUA e acirra disputa comercial

CNI enviou resposta oficial ao governo americano e defendeu que nem Pix, nem etanol ou tarifas preferenciais prejudicam companhias dos Estados Unidos.

Apoio

priner servicos industriais prnr3 3
priner servicos industriais prnr3 3
  • Pix virou alvo central, mas CNI defendeu que sistema beneficia também empresas americanas.
  • Acusações de tarifas, corrupção e propriedade intelectual foram rebatidas com dados e avanços institucionais.
  • Etanol e desmatamento também entraram na disputa, elevando a tensão na relação Brasil-EUA.

A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos entrou em novo capítulo de tensão. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) protocolou, nesta segunda-feira (18), uma resposta dura à investigação conduzida pelo USTR, braço comercial da Casa Branca.

No documento de mais de 20 páginas, a entidade rebateu ponto a ponto as seis acusações de supostas práticas desleais incluindo o Pix, tarifas preferenciais e até barreiras ao etanol americano que embasam o tarifaço imposto por Washington.

Pix no centro da polêmica

Um dos principais alvos da apuração é o sistema Pix, acusado por empresas americanas de prejudicar a competitividade no setor de pagamentos digitais. A CNI contestou de forma veemente.

Ademais, segundo a entidade, não há qualquer evidência de que o Pix tenha tirado espaço de cartões de crédito ou débito. Pelo contrário: dados do Banco Central mostram que o uso desses meios cresceu após a criação da ferramenta.

Para os industriais, o Pix funciona de maneira similar ao FedNow, sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Federal Reserve. Desse modo, a diferença é que, no Brasil, a plataforma ampliou a inclusão financeira e dinamizou até o comércio eletrônico com empresas estrangeiras.

Tarifas, corrupção e propriedade intelectual

Outro ponto contestado foram as tarifas preferenciais. Os EUA afirmam que o Brasil favorece países como Índia e México. A CNI rebateu: a tarifa efetiva média aplicada sobre bens americanos é de apenas 2,7%, abaixo das praticadas contra indianos e mexicanos.

Assim, no tema da corrupção, o texto destacou que o Brasil mantém uma estrutura legal robusta e independente, com decisões do STF voltadas a garantir o devido processo legal. Para a entidade, isso prova compromisso com o Estado de Direito.

Por fim, quanto à propriedade intelectual, o documento ressaltou avanços, como a redução do tempo de análise de patentes para 2,9 anos, próxima da média dos países desenvolvidos.

Etanol e desmatamento em pauta

A acusação de barreiras contra o etanol americano também foi rebatida. A CNI afirmou que não existem medidas discriminatórias e que Brasil e EUA, maiores produtores globais, deveriam trabalhar juntos para abrir mercados externos de biocombustíveis.

Além disso, no tema ambiental, a entidade assegurou que o Brasil fortaleceu leis contra o desmatamento ilegal e implementou mecanismos rígidos de controle da cadeia florestal. Para a indústria, não há práticas que prejudiquem produtores dos EUA.

Desse modo, ao encerrar o documento, o presidente da CNI, Ricardo Alban, foi taxativo: “Nenhuma política brasileira restringe ou prejudica o comércio americano. Não há base legal para tarifas adicionais”.

Escalada de tensões

A manifestação encerra a fase de contribuições escritas da investigação aberta pelo USTR. A partir de agora, o governo dos EUA pode avançar com novas sanções ou revisar o tarifaço.

Ademais, o episódio ocorre em meio ao deteriorado cenário diplomático entre os dois países. Além das tarifas, o cancelamento de reuniões bilaterais recentes elevou a percepção de que a relação atravessa seu pior momento em décadas.

Portanto, para especialistas, a defesa da CNI joga luz sobre a estratégia brasileira: confrontar dados com dados e buscar desarmar, no campo técnico, a ofensiva americana. Mas o risco de retaliações segue elevado.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.