
- Banco do Brasil acumula queda de mais de 30% desde janeiro e fechou abaixo de R$20 na semana passada.
- BTG Pactual reduziu o preço-alvo das ações de R$30 para R$24, mas ainda vê potencial de valorização.
- Crise do agro e temor de sanções americanas pesam no curto prazo; analistas recomendam foco no longo prazo.
As ações do Banco do Brasil (BBAS3) encerraram a última semana em forte queda, acumulando mais de 30% de desvalorização em seis meses. Na última sexta-feira (1°), os papéis caíram quase 7%, rompendo a linha psicológica dos R$20 e deixando o mercado em alerta.
Apesar da abertura positiva no pregão, o tombo veio após a divulgação de um novo relatório do BTG Pactual, que revisou para baixo o preço-alvo das ações. Além disso, rumores sobre possíveis sanções dos Estados Unidos a membros do Judiciário brasileiro também contribuíram para o pessimismo, afetando especialmente o BB, por sua forte ligação com o setor público.
BTG revisa projeções e sacode o mercado
A principal faísca que acendeu a nova rodada de quedas foi a reavaliação do preço justo das ações pelo BTG. O banco cortou o target de R$30 para R$24, o que representa uma redução de 20%. Ainda assim, o valor estimado está cerca de 30% acima da cotação atual, o que aponta para um potencial de recuperação.
Mesmo com essa diferença, o movimento trouxe desconforto entre investidores. Isso porque a revisão indica que os analistas enxergam riscos mais persistentes nos resultados futuros da estatal. A grande preocupação gira em torno da deterioração do setor agropecuário, uma das principais frentes de crédito do banco.
Segundo o relatório, muitos produtores financiados pelo BB estão enfrentando dificuldades, especialmente os menos experientes, que entraram no setor atraídos pelos preços elevados da soja em safras anteriores. O problema se agrava com a Selic a 15%, que mantém o custo da dívida elevado e pressiona o caixa dessas empresas.
Além disso, o BTG reforçou que não vê melhora no curto prazo. Os analistas projetam um cenário desafiador nos próximos trimestres, com inadimplência em alta e margens pressionadas. Ainda assim, o banco não pinta um quadro catastrófico, e isso precisa ser lido com atenção.
Tensão política eleva percepção de risco
Outro fator que aumentou a aversão ao risco foi a escalada na crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos. A possível aplicação da Lei Magnitsky, que pode resultar em sanções a autoridades brasileiras, levantou dúvidas sobre o impacto para instituições financeiras com operação internacional.
O Banco do Brasil é um dos mais expostos, já que tem ligação direta com o governo federal e responde por grande parte da folha de pagamento do funcionalismo público. Caso o governo brasileiro entre em confronto com as imposições americanas, o BB pode sofrer retaliações indiretas.
Diferentemente do Bradesco, que sinalizou que apenas cumprirá a legislação dos EUA, o Banco do Brasil pode ser pressionado politicamente a adotar postura mais confrontadora. Isso pode elevar o risco regulatório e prejudicar sua imagem junto a investidores internacionais.
No entanto, analistas avaliam que, por ora, esse risco permanece mais no campo da especulação do que da probabilidade. Mesmo assim, o cenário instável adiciona mais um componente negativo à narrativa atual do banco.
Vale a pena comprar ou é melhor esperar?
Para quem investe com foco no curto prazo, o cenário não é animador. A visibilidade sobre os resultados dos próximos trimestres permanece baixa, e a ação está vulnerável a ruídos políticos e setoriais. Nesse contexto, outros ativos mais previsíveis podem fazer mais sentido.
No entanto, investidores com visão de longo prazo enxergam uma oportunidade rara. Mesmo após a revisão do BTG, o Banco do Brasil continua lucrando cerca de R$20 bilhões por ano. Além disso, o dividend yield permanece atrativo e os múltiplos estão entre os mais baixos do setor.
Se o setor do agronegócio começar a se recuperar, e caso o impasse político com os EUA não se agrave, o BB pode se beneficiar rapidamente de um movimento de reprecificação. Historicamente, momentos de pessimismo costumam oferecer os melhores pontos de entrada.
Por isso, quem busca retornos para além de dois ou três anos pode considerar a ação uma boa aposta, desde que diversifique seus investimentos e mantenha uma estratégia disciplinada.