
O Brasil registrou uma inflação anualizada de 5,35% em junho, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice de Preços ao Consumidor Amplo, em 12 meses, supera o teto da meta de 4,5% estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), confirmando o descumprimento do objetivo inflacionário.
Como prevê a nova regra de meta contínua — válida desde janeiro — o Banco Central (BC) terá de publicar uma carta formal ao Ministério da Fazenda explicando por que não conseguiu manter a inflação dentro dos limites por seis meses consecutivos.
O que puxou a inflação?
Embora a inflação mensal de junho tenha sido 0,24%, abaixo da registrada em maio (0,26%), o número veio acima da expectativa do mercado, que projetava cerca de 0,20%.
Segundo o IBGE, o principal vilão do mês foi o grupo habitação, com alta de 0,99%, puxado especialmente pela energia elétrica residencial, que subiu 2,96%.
Essa alta foi causada pela entrada em vigor da bandeira vermelha patamar 1, que encareceu a conta de luz dos brasileiros e adicionou 0,12 ponto percentual ao IPCA do mês — o maior impacto individual.
Já os alimentos aliviaram o índice, com deflação de -0,18% no grupo alimentação e bebidas, e o setor de educação registrou estabilidade. No entanto, os serviços também pressionaram: o transporte por aplicativo subiu expressivos 13,77%, e o conserto de automóveis, 1,03%.
Meta contínua: nova regra, nova cobrança
A partir deste ano, o Brasil passou a adotar a chamada meta contínua de inflação. Antes, a meta era medida apenas pelo fechamento do ano.
Agora, se o índice ficar fora da faixa permitida (1,5% a 4,5%) por mais de seis meses seguidos, considera-se que o Banco Central descumpriu seu mandato.
A última vez que o IPCA ficou abaixo do teto foi em setembro de 2024, quando marcava 4,42%. Desde então, a inflação anualizada só fez subir — e com isso, já são nove meses acima do teto.
Mais uma carta de Galípolo
Como manda a regra, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, terá que enviar uma nova carta ao Ministério da Fazenda, chefiado por Fernando Haddad, explicando:
- as razões do descumprimento da meta,
- medidas que serão tomadas para reverter o quadro,
- e o prazo estimado para que a inflação volte ao centro da meta (3%).
O documento será divulgado ainda nesta quinta, às 18h.
Galípolo, aliás, já havia adiantado na Câmara dos Deputados na véspera que provavelmente entrará para a história como o primeiro presidente do BC a assinar duas cartas de descumprimento em menos de seis meses. A primeira foi publicada em janeiro, quando a inflação de 2024 fechou em 4,83%.
“Posso não ganhar o prêmio de miss simpatia do ano, mas vou dormir tranquilo. O BC não se desviará um milímetro do mandato de inflação”, afirmou.
Selic a 15% e cenário ainda incerto
Para conter a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic para 15% ao ano — um patamar elevado, que pressiona o crédito e encarece o custo do dinheiro na economia, mas ainda não mostrou efeito suficiente para reconduzir os preços à meta.
O cenário internacional também pesa. A alta recente do dólar, puxada pela crise diplomática com os EUA após o anúncio de tarifas de 50% por Donald Trump contra produtos brasileiros, pode repassar ainda mais pressão aos preços nos próximos meses, especialmente sobre combustíveis e insumos importados.