
- Empresas chinesas somam mais de 80 delistagens nas bolsas americanas desde 2019, reduzindo drasticamente sua relevância em Wall Street.
- Multinacionais americanas estão abandonando planos de expansão na China por causa de instabilidade regulatória, desaceleração econômica e tensões políticas.
- O movimento de “decoupling” financeiro e produtivo já está consolidado, com fundos, bancos e grandes empresas diminuindo ou eliminando exposição ao mercado chinês.
Com desinvestimentos recordes, delistagens em massa e empresas norte-americanas abandonando planos de expansão, a China vem perdendo relevância em Wall Street — mostrando que já não é a força dominante que foi até pouco tempo atrás.
A fuga de empresas chinesas das bolsas americanas
Por décadas, a China foi vista como a grande promessa para investidores globais. Seu crescimento acelerado, mercado consumidor gigantesco e apetite por inovação faziam do país um destino quase obrigatório para o capital de Wall Street. No entanto, esse cenário mudou — e de forma irreversível. Nos bastidores do mercado financeiro, cresce o consenso de que a China deixou de ser prioridade e, para muitos, já se tornou irrelevante nos portfólios mais robustos dos Estados Unidos.
Essa guinada é visível nos números. Em apenas cinco anos, mais de 80 empresas chinesas saíram das bolsas americanas, reduzindo drasticamente a exposição do investidor dos EUA ao gigante asiático. Atualmente, as companhias da China representam menos de 2% da capitalização combinada da NYSE e da Nasdaq. A maioria que ainda permanece listada pertence a segmentos de menor peso ou apresenta características especulativas.
Multinacionais perdem o apetite pela China
Além das delistagens, o desinteresse também é notório no comportamento das multinacionais americanas. Em 2019, quase 100% das empresas com atuação global afirmavam querer ampliar investimentos na China. Em 2025, esse número caiu para menos da metade. A incerteza regulatória, o avanço do autoritarismo político e na economia e a desaceleração estrutural do país têm afastado até os mais entusiastas.
A economia chinesa já não impressiona como antes. O consumo interno dá sinais de estagnação, o setor imobiliário mergulhou em crise, e as promessas de crescimento de dois dígitos ficaram no passado. Enquanto isso, os Estados Unidos e seus aliados redirecionam cadeias produtivas, buscando fornecedores alternativos para evitar dependência de um país visto como pouco confiável em tempos de tensão geopolítica.
O setor de tecnologia, antes o grande trunfo da China, também vive um momento delicado. A tentativa de domínio global de tecnologias por meio do plano “Made in China” gerou reação imediata dos americanos, que passaram a limitar exportações de semicondutores e pressionar por reshoring de suas fábricas. Com isso, empresas como Apple, Tesla e Intel aceleram a saída da Ásia e investem em países como Índia, Vietnã e México.
Decoupling financeiro acelera ruptura entre as potências
No mercado financeiro, o chamado “decoupling” – a desvinculação dos laços econômicos entre EUA e China – já é uma realidade. Fundos de investimento reestruturam carteiras, gestoras reduzem drasticamente a exposição à Ásia, e bancos americanos criam mecanismos para retirada rápida de capital em caso de instabilidade. Com tarifas médias acima de 50% e ambiente jurídico imprevisível, a China deixou de ser uma oportunidade e virou um risco calculado — e, muitas vezes, evitado.
A nova ordem global que se desenha coloca a China em posição cada vez mais isolada dos grandes centros financeiros. Enquanto Pequim tenta controlar a narrativa com promessas de abertura e estabilidade, o dinheiro já tomou outro rumo. E em Wall Street, onde confiança é mais valiosa do que qualquer discurso, o veredito já foi dado: a China não importa mais como antes.