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Quando a Raízen (RAIZ4) vai sair do sufoco? BB-BI traça visão

Mesmo enfrentando prejuízo de R$ 4,2 bilhões e pressão sobre margens, gigante dos biocombustíveis aposta em reestruturação para retomar fôlego financeiro

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Raízen (RAIZ4)
Foto: Divulgação

O Banco do Brasil Investimentos (BB-BI) tem uma visão cautelosa sobre a Raízen (RAIZ4), ao observar fortes desafios financeiros após anos de expansão agressiva e alta alavancagem.

Segundo análise do banco, a empresa vive um “descompasso entre crescimento e sustentabilidade financeira”, que exige medidas rápidas e eficazes.

A primeira resposta veio com um plano de investimento mais enxuto e foco na eficiência: a Raízen pretende economizar cerca de R$ 500 milhões no EBITDA (lucro ante impostos, juros e amortizações) anual com cortes em estruturas corporativas e operacionais, ao mesmo tempo em que reforça sua aposta no core business — açúcar, etanol e distribuição de combustíveis.

Para o BB-BI, os movimentos da companhia — venda de ativos, realinhamento estratégico e corte de custos — são acertados. Mas os analistas alertam: os resultados ainda devem demorar a aparecer, dada a complexidade dos ajustes e a necessidade de que eles se concretizem de forma efetiva.

Déficit pesado, caixa pressionado

No ano-safra 2024/25, a empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 4,2 bilhões. O cenário se agravou porque os custos cresceram acima das receitas em todos os segmentos, pressionando margens e corroendo a geração de caixa.

O caixa operacional, de R$ 6,2 bilhões, foi insuficiente para fazer frente às obrigações: o pagamento de amortizações e arrendamentos somou R$ 22,8 bilhões. A diferença foi coberta com um volume recorde de captações de R$ 34 bilhões, o que fez a dívida líquida/EBITDA saltar para 3,4x.

Apesar disso, a empresa ainda conta com um prazo médio de endividamento longo — 8,9 anos — e uma posição de caixa considerada robusta, o que dá algum fôlego para a esperada desalavancagem.

Virada de chave em andamento

A companhia anunciou ajustes importantes. No etanol, projeta moagem de 72 a 75 milhões de toneladas de cana, com um mix mais açucareiro. Também vai redesenhar sua área de trading para reduzir risco e uso de capital de giro.

No segmento de combustíveis, a meta é crescer entre 2% e 3% no volume vendido no Brasil, apesar da forte concorrência e do avanço do mercado informal.

A Raízen aposta na melhora do ambiente regulatório — como maior fiscalização contra fraudes — para reconquistar espaço.

Na Argentina, quer manter o ritmo de crescimento da rede Shell, com estabilidade de margens em dólares.

Em junho, a agência Fitch reafirmou a nota AAA (bra) na escala nacional, com perspectiva estável, mas revisou a nota global para “BBB” com viés negativo, refletindo o ambiente financeiro mais desafiador e os riscos associados ao alto endividamento.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.