
- Bank of America vê real com potencial de alta mesmo após ganhos recentes.
- Dólar recua, mas tarifas dos EUA podem afetar exportações brasileiras.
- Eleições e cenário político influenciam projeções até 2026.
O real brasileiro permanece “profundamente subvalorizado” na avaliação do Bank of America (BofA), um dos maiores bancos de investimento de Wall Street. De acordo com relatório recente, a moeda está mais de 15% abaixo de sua média de longo prazo, considerando termos reais ponderados pelo comércio.
Apesar da valorização acumulada desde o início de 2025, o banco acredita que há espaço para continuidade desse movimento. O estudo analisou também outras moedas latino-americanas e identificou que Brasil e Chile não compartilham a mesma tendência de supervalorização observada em países vizinhos.
Desempenho recente e cenário atual
O dólar vem sendo negociado em torno de R$ 5,42 nas últimas semanas, após oscilar fortemente entre o fim de 2024 e o início de 2025, quando chegou a R$ 6,29. Mesmo com essa queda recente, analistas apontam que o real ainda não recuperou todo seu potencial frente à moeda norte-americana.
Segundo o BofA, fatores como fluxo de investimentos e fundamentos macroeconômicos sustentam a tese de valorização. O banco cita ainda o ambiente de juros altos no Brasil, que aumenta o retorno real para investidores estrangeiros, e a expectativa de entrada de capitais após as eleições.
O relatório também destaca o desempenho positivo do Chile, atribuído à estabilidade política e ao interesse por ativos latino-americanos em meio à recuperação econômica global.
Riscos no horizonte
Apesar do otimismo com a moeda, o cenário não é livre de riscos. As tarifas de 50% impostas pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros incluem cerca de 700 exceções, cobrindo exportações-chave como suco de laranja, minério de ferro e aeronaves. Com isso, o impacto direto pode ser limitado no curto prazo, mas não desprezível no médio e longo prazo.
Analistas alertam que a disputa comercial com os Estados Unidos pode se intensificar. Para o BofA, esse fator, aliado ao aumento da aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode alterar o equilíbrio político e econômico de 2026.
Ainda assim, parte do mercado acredita que o Brasil seguirá atraindo investimentos devido à sua base diversificada de exportações e ao tamanho do mercado interno, o que reduz vulnerabilidades frente a choques externos.
Divergências entre projeções
Embora o BofA mantenha visão construtiva sobre o real, outras instituições mostram cautela. A Oxford Economics avalia que as tarifas norte-americanas podem ter “impactos negativos significativos no comércio de longo prazo”.
Felipe Camargo, economista-chefe da Oxford, afirma que “mesmo com a economia fechada e diversificada, o Brasil não escapará ileso”. A consultoria estima uma queda de 5% nas exportações reais e um recuo de 10% na competitividade comercial até 2040, comparado a tendências pré-tarifárias.
Esse contraste de visões reforça a incerteza sobre a trajetória cambial. Enquanto alguns apostam na recuperação, outros veem obstáculos que podem retardar o avanço da moeda.
Perspectivas para 2026 e além
O BofA projeta que, caso os fundamentos se mantenham e não haja choques externos severos, o real poderá se valorizar gradualmente ao longo dos próximos dois anos. Para isso, será essencial preservar a credibilidade fiscal, manter juros em patamar atrativo e incentivar fluxos de investimento.
Ao mesmo tempo, a evolução da disputa comercial com os EUA será determinante. Novas medidas protecionistas ou mudanças na política econômica norte-americana podem afetar diretamente a confiança no Brasil.
O consenso entre os analistas é que, embora a moeda brasileira ainda tenha espaço para subir, a trajetória será marcada por volatilidade. Para investidores, isso exige atenção redobrada a fatores políticos e comerciais.