Na sessão desta segunda-feira (02), o dólar comercial atingiu R$ 6,068, marcando uma nova máxima histórica nominal. O movimento de alta ocorreu em meio à repercussão do anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que confirmou a isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas com rendimentos de até R$ 5 mil. A medida, divulgada na última quarta-feira, causou especulações no mercado sobre impactos fiscais e instabilidade na economia brasileira.
Com a disparada do dólar, o real intensificou seu mau desempenho em relação a outras moedas latino-americanas, aproximando-se de consolidar o título de pior performance regional de 2024, em uma disputa acirrada com o peso argentino.
Desempenho do real e ranking regional
De acordo com um levantamento realizado pela Quantum Finance até a última sexta-feira (22), o real ocupava a segunda posição entre as moedas mais desvalorizadas da América Latina em 2024, acumulando uma queda de 16,78% ao longo do ano. O peso argentino, por sua vez, liderava a lista com uma desvalorização de 19,49%.
Segue o ranking das moedas latino-americanas mais desvalorizadas:
- Peso Argentino (ARS): -19,49%
- Real Brasileiro (BRL): -16,78%
- Peso Mexicano (MXN): -16,72%
- Peso Colombiano (COP): -11,58%
- Peso Chileno (CLP): -9,38%
- Novo Sol Peruano (PEN): -3,08%
Enquanto o peso argentino rompeu a barreira simbólica de 1.000 pesos por dólar em novembro, o real, que não possui mecanismos regulatórios para conter desvalorizações, enfrenta um cenário de incerteza fiscal e pressões inflacionárias, que têm prejudicado sua estabilidade.
Peso argentino: alta controlada?
Apesar da forte desvalorização, a situação do peso argentino ocorre dentro de um contexto regulatório planejado. O banco central argentino permite uma desvalorização controlada de até 2% ao mês, o que torna previsível o enfraquecimento da moeda, mesmo quando atinge níveis simbólicos, como o rompimento dos quatro dígitos em relação ao dólar.
No entanto, especialistas alertam que a estabilidade nominal promovida pela política de desvalorização gradual não significa necessariamente saúde econômica. A inflação crônica e a falta de reservas internacionais colocam desafios adicionais para a Argentina.
Instabilidade no mercado brasileiro
O real, ao contrário, enfrenta um ambiente de maior volatilidade. Em novembro, a moeda brasileira registrou 0,49% de depreciação frente ao dólar, ampliando o acúmulo de perdas no ano. Nos meses de maior pressão, como junho, a desvalorização chegou a ultrapassar 6%, superando momentaneamente o desempenho negativo do peso argentino naquele período.
Analistas apontam que a combinação de incertezas fiscais e movimentos especulativos tem aumentado a vulnerabilidade da moeda brasileira. O recente anúncio da isenção de Imposto de Renda, por exemplo, gerou preocupações quanto à capacidade do governo de compensar a perda de arrecadação sem comprometer as contas públicas.
Recuperação depende de ações claras do governo
Para o futuro, especialistas avaliam que a recuperação do real depende de ações claras e consistentes do governo para estabilizar a economia. Medidas de estímulo ao crescimento econômico, redução das incertezas fiscais e uma política monetária mais previsível são apontadas como cruciais para retomar a confiança do mercado.
Enquanto isso, o desempenho do dólar frente ao real continuará sendo um termômetro da saúde econômica do Brasil, com impactos diretos sobre inflação, comércio exterior e poder de compra da população. A marca histórica de R$ 6,068 sinaliza um alerta para os desafios que o país enfrentará nos próximos meses.