
O anúncio do pedido de recuperação judicial – Chapter 11 – da Azul (AZUL4), na última quarta-feira (28), gerou turbulência no setor aéreo brasileiro e acendeu um sinal de alerta entre os investidores da Embraer (EMBR3).
Afinal, a companhia aérea é uma das principais operadoras dos jatos da fabricante brasileira, especialmente da nova geração de jato E2. Mas o quanto isso realmente afeta a Embraer?
Segundo o BTG Pactual, os impactos existem, mas são limitados. “Entendemos que os efeitos da reestruturação da Azul serão limitados para a Embraer, considerando o montante de contas a receber, a participação da Azul (e da Aercap) na carteira de pedidos da Embraer e outros fatores do setor”, afirma o banco.
Azul reduz frota, mas E2 segue relevante
A Azul anunciou que vai reduzir sua frota contratual de 201 para 170 aeronaves até o fim de 2025, e de 218 para 172 até 2027 — uma retração de quase 20%.
Embora a empresa não tenha especificado quais modelos serão afetados, o mercado passou a questionar se haveria cancelamentos ou postergação de pedidos de jatos E2 da Embraer.
O BTG reconhece a preocupação, mas destaca duas razões que atenuam o risco:
“O E2 oferece melhor economia de operação, com maior alcance e conectividade, ajustando-se perfeitamente à malha aérea da Azul, sendo assim pilar fundamental da recuperação financeira da companhia; e ao adquirir aviões de fabricação local (Embraer), a empresa tende a obter melhores condições de financiamento do que ao comprar aeronaves montadas no exterior, como a Airbus.”
Exposição financeira da Embraer à Azul é pequena
No balanço, a exposição direta à Azul é modesta. As contas a receber da Embraer somavam R$ 1,5 bilhão no primeiro trimestre de 2025, já descontadas perdas esperadas.
Apenas R$ 209 milhões vêm de clientes brasileiros — número que inclui também a Força Aérea Brasileira.
“Acreditamos que a exposição da Embraer à Azul em contas a receber seja uma fração desse valor (menos de 1% de seu valor de mercado)”, estimou o BTG.
Além disso, o banco explica que parte dos pedidos da Azul foi feita por intermediários, especialmente a Aercap, que responde por apenas 3% da carteira de pedidos firmes da Embraer.
Cancelamentos? Pouco prováveis
Apesar do cenário adverso da Azul, o BTG avalia que o risco de cancelamento de pedidos é baixo.
Isso porque, mesmo que ocorra, a Embraer mantém os pagamentos antecipados feitos no fechamento dos contratos.
“Em caso de cancelamento significativo de pedidos futuros, a Embraer perderia apenas o capital de giro já comprometido nas unidades em produção, não toda a carteira da Azul”, desta o banco.
Além disso, a demanda global por aeronaves mais eficientes segue aquecida, o que permite à Embraer substituir clientes, ainda que com algum desafio de curto prazo. “Contratos mais recentes tendem a oferecer rentabilidade superior aos fechados sob condições de preço diferentes no passado”, aponta o BTG.
Por fim, o banco chama a atenção para o crescimento da Embraer fora do Brasil, o que reduz sua dependência de qualquer cliente local, incluindo a Azul.
“Estamos cada vez mais otimistas quanto às oportunidades de crescimento da Embraer fora do Brasil em todos os seus segmentos, especialmente nos negócios Comercial e Defesa.”