
- Inadimplência do agro pressiona BBAS3, mesmo com safra recorde e carteira de R$ 409 bilhões.
- Programa do governo de R$ 12 bi é insuficiente frente aos R$ 58 bi já prorrogados.
- Papel negocia com desconto, mas exige horizonte de longo prazo para recuperar valor.
O Banco do Brasil (BBAS3) enfrenta um cenário de forte pressão em sua carteira de crédito agrícola. Apesar da previsão de safras recordes em 2025 e 2026, os preços baixos das commodities e o alto custo do financiamento estão elevando a inadimplência. Analistas alertam que o terceiro trimestre pode trazer novo recorde de calotes, especialmente em soja e milho.
O banco, que responde por 50% do crédito rural no país, viu a inadimplência do agro atingir 3,49% no 2T25, alta de 0,45 ponto percentual frente ao trimestre anterior. Os números preliminares de julho já mostraram deterioração adicional, enquanto agosto deve confirmar a tendência negativa.
Crédito agrícola em deterioração
O problema não é exclusivo do Banco do Brasil. Santander (SANB11) e outras instituições também relataram pressões semelhantes, com aumento de recuperações judiciais. A decisão recente do STJ permitindo que produtores pessoas físicas recorram à recuperação judicial ampliou o risco de calotes.
A combinação de commodities desvalorizadas, Selic a 15% e spreads bancários elevados tem deixado o crédito insustentável para muitos produtores. Isso se traduz em dívidas mais pesadas e maior dificuldade de rolagem. Segundo analistas, a taxa consolidada de inadimplência do BB pode ultrapassar 4% neste trimestre.
Na tentativa de conter o risco, o banco passou a exigir garantias mais robustas, como alienação fiduciária de terras e equipamentos. No entanto, a estratégia reduz a originação de novos contratos e aumenta a participação de créditos antigos e mais frágeis.
Governo tenta reagir
O governo federal anunciou recentemente um programa de R$ 12 bilhões para refinanciamento de dívidas rurais. Apesar de positivo, o valor é considerado insuficiente diante do tamanho da carteira do BB, que soma R$ 409 bilhões apenas no agronegócio.
Segundo analistas, a chamada carteira prorrogada do setor já alcança R$ 58 bilhões, o que equivale a 14% do crédito agrícola total do banco. Ou seja, o pacote representa apenas um alívio temporário, incapaz de reverter a tendência negativa no curto prazo.
Mesmo assim, o anúncio coincidiu com uma alta das ações do BBAS3. Mas analistas explicam que a valorização refletiu mais fatores externos, como expectativas de corte de juros nos EUA e pesquisas eleitorais, do que o pacote de crédito em si.
Gestão sob escrutínio
Outro ponto de atenção é a condução interna. O BB ampliou agressivamente a concessão de crédito desde 2022, elevando a carteira do agro de R$ 309 bilhões para mais de R$ 400 bilhões. O mercado, porém, vê a estratégia com desconfiança.
A administração reduziu a distribuição de dividendos para 30% e revisou a projeção de lucro líquido para R$ 21 bilhões em 2025, ante R$ 37 bilhões previstos antes. A Resolução 4966 do CMN também pesa, já que impede o banco de contabilizar juros de créditos em atraso há mais de 90 dias, cortando cerca de R$ 1 bilhão por trimestre da margem financeira.
No front internacional, o debate sobre a Lei Magnitsky adiciona ruído, mas analistas afirmam que o impacto real tende a ser limitado e já deve perder força ao longo de 2026.
Oportunidade de longo prazo?
Apesar das dificuldades, parte do mercado vê BBAS3 como oportunidade para investidores pacientes. O banco negocia a 0,6 vez o valor patrimonial e mantém vantagens competitivas no crédito rural e na base de depósitos.
No entanto, com o ROE abaixo do custo de capital (15%), o retorno atual não compensa o risco para quem busca ganhos imediatos. A expectativa é de melhora gradual somente a partir de 2026, caso a Selic caia e os índices de inadimplência recuem.
Para atravessar a volatilidade, analistas sugerem estratégias defensivas. “Comprar put de Banco do Brasil pode ser interessante”, resume Larissa Quaresma, da Empiricus Research.