
- A ação da Braskem afundou ao menor nível em 10 anos com risco de reestruturação financeira
- O projeto PRESIQ pode aliviar parte da crise, mas não resolve sozinho os problemas estruturais
- Os acionistas enfrentam perdas relevantes, risco de diluição e queda de liquidez nos papéis
O mercado financeiro viveu mais um dia de tensão nesta sexta-feira (26). As ações da Braskem (BRKM5) despencaram 13,23%, cotadas a R$ 7,15, o menor nível em dez anos. No pior momento, chegaram a R$ 7,07. Embora a participação da companhia no Ibovespa seja de apenas 0,1%, o tombo chamou atenção de analistas e investidores.
O gatilho para o movimento foi o anúncio de que a petroquímica contratou assessores financeiros e jurídicos para revisar sua estrutura de capital, interpretado como um sinal de risco de reestruturação. A queda soma-se a um cenário de margens apertadas, dívida elevada e ciclo global de baixa no setor químico, aumentando a pressão sobre os acionistas.
Dívida elevada e alerta do mercado
A Braskem opera hoje com alavancagem próxima de 10,5 vezes, número considerado insustentável por bancos e corretoras. Para o JPMorgan, a movimentação indica que a companhia pode recorrer a uma reestruturação formal, mesmo que uma negociação extrajudicial ainda esteja sobre a mesa.
O Bradesco BBI reforçou que “não existe bala de prata” para resolver os problemas, destacando que apenas a revisão de capital não basta. O banco citou medidas adicionais como corte de custos, venda de ativos e até oferta de ações. Além disso, lembrou que o sucesso depende também de avanços regulatórios, como a aprovação do projeto PRESIQ, voltado à indústria química.
A pressão cresceu após o UBS BB cortar a recomendação de compra para neutro e reduzir o preço-alvo de R$ 15 para R$ 10. O relatório do banco destacou que tarifas de importação mais altas e incentivos fiscais viraram pré-requisitos para reduzir a queima de caixa, o que elevou ainda mais o pessimismo em torno da ação.
Papel do PRESIQ e chances de recuperação
O PRESIQ, Programa Especial para a Sustentabilidade da Indústria Química, prevê créditos fiscais capazes de gerar até US$ 500 milhões por ano em Ebitda até 2026. Analistas da XP calcularam que esse valor representaria 40% das projeções operacionais da Braskem para 2025, funcionando como alívio parcial.
No entanto, especialistas alertam que a aprovação do projeto no Congresso pode demorar e, mesmo aprovada, a medida não resolve sozinha os problemas estruturais. “O ciclo global adverso permanece, e o PRESIQ é apenas uma peça dentro de uma equação mais ampla”, destacam.
Assim, investidores precisam considerar que a recuperação da Braskem dependerá de múltiplos fatores: corte de custos consistente, melhora do ambiente internacional, renegociação de contratos e disciplina financeira. Sem isso, os riscos de mais quedas permanecem elevados.
Impacto para investidores
Para os acionistas, o cenário atual representa um alerta de forte risco patrimonial. A queda brusca das ações já gerou perda de valor relevante, e a possibilidade de reestruturação aumenta o risco de diluição em caso de novas emissões.
Além disso, se a companhia deixar índices de referência da B3, a liquidez das ações pode diminuir, dificultando a saída de investidores no curto prazo. Em casos extremos de falência, os acionistas seriam os últimos a receber, atrás de todos os credores, o que praticamente anula a chance de recuperação.
Mesmo diante da pressão, analistas não descartam movimentos especulativos de curto prazo, comuns em ativos que sofrem forte desvalorização. No entanto, o consenso é de que a cautela deve prevalecer, especialmente para o investidor pessoa física.