
- Setor gera caixa robusto, mas prioriza reduzir dívidas antes de ampliar dividendos
- Suzano mantém foco em expansão global e aquisições, enquanto Klabin acelera desalavancagem
- Irani se destaca com margem de 27% e valorização das ações
A temporada de balanços do 2º trimestre de 2025 (2T25) foi positiva para Suzano, Klabin e Irani, que apresentaram bons resultados e chegaram a impulsionar suas ações na Bolsa. Porém, parte dos ganhos foi devolvida nas sessões seguintes, refletindo cautela do mercado.
Apesar do avanço na geração de caixa, o setor opta por reduzir dívidas em vez de ampliar dividendos, o que frustra investidores que esperavam maior remuneração neste ciclo.
Caixa robusto, mas foco em desalavancagem
Com o ciclo de investimentos chegando ao fim, as companhias passaram a operar mais desalavancadas, ou seja, com menor relação entre dívida e Ebitda. Essa condição abre espaço para pensar em dividendos maiores, mas o setor adota prudência.
Segundo Igor Guedes, analista da Genial, o momento ainda exige disciplina. “O mandato é desalavancar primeiro para depois pensar em aumentar o dividend yield”, afirma.
Um exemplo é a Klabin (KLBN11), que reduziu sua política de distribuição de dividendos em 2024 para acelerar a queda da alavancagem, adiando planos de elevar o payout.
Suzano: expansão acima de dividendos
No caso da Suzano (SUZB3), a prioridade é expansão e diversificação. O perfil da família controladora, os Feffer, foca em crescimento e fusões e aquisições, e não na maximização de dividendos.
A empresa, que enfrentou volatilidade após rumores de compra da International Paper em 2024, optou por aquisições menores e estratégicas. Um exemplo é a compra do negócio internacional de tissue da Kimberly-Clark.
Além disso, o Projeto Cerrado, em Ribas do Rio Pardo (MS), já opera como a maior fábrica de celulose do mundo em linha única. A planta deve reduzir custos de produção de R$ 800 para cerca de R$ 550 por tonelada, o que fortalece a competitividade global.
Klabin e Irani mostram avanços
A Klabin apresentou evolução nos projetos Puma II e Figueira, que aumentaram volumes de produção sem elevar custos, gerando ganho de margem e caixa. A empresa reduziu a relação dívida líquida/Ebitda de 4 vezes para 3,7 vezes em 12 meses.
Já a Suzano também reduziu sua alavancagem, embora em ritmo mais lento: de 3,1 vezes para 3,0 vezes.
A Irani (RANI3) foi o destaque do trimestre, registrando lucro líquido de R$ 112 milhões, mais que o dobro de 2024. Suas ações subiram quase 10% após a divulgação. Com baixa exposição ao mercado externo e custos controlados, a empresa alcançou margem de 27%, acima das concorrentes.
Desafios para o 3º trimestre
Apesar dos bons números, o 3T25 traz riscos. Guedes alerta que a Suzano precisa confirmar a redução de custos por tonelada, já que o 1T25 trouxe alta relevante devido a paradas de manutenção.
Além disso, o “delay” no repasse de preços deve pesar no trimestre, pois o preço spot da celulose caiu para o piso de US$ 500 no 2T25. Essa pressão é reforçada pela entrada em operação de novas capacidades, incluindo a própria planta da Suzano e expansões de concorrentes no Chile e na China.
O excesso de oferta global, somado a uma demanda estagnada, deve manter o setor pressionado no curto prazo.
Pressão internacional e tarifas dos EUA
Segundo relatório do Santander, o mercado de celulose seguirá pressionado. Na China, os preços caíram 9% no ano para fibra curta e 11% para fibra longa. Já nos EUA, a tarifa de 50% sobre tissue brasileiro tem impacto limitado, pois o país recebe pouco volume.
Mais de 90% da produção nacional abastece o mercado interno, e o restante pode ser redirecionado a destinos como México, Canadá e Argentina. Ainda assim, o excesso de oferta doméstica continuará pressionando preços.
Nesse cenário, Suzano e Klabin levam vantagem por terem custos competitivos, integração operacional e portfólios diversificados, o que deve amortecer os impactos no médio prazo.
Impacto das tarifas de Trump
Embora a celulose em si tenha ficado isenta das tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, os reflexos indiretos preocupam. Setores como frigoríficos e exportadores de frutas, que usam embalagens de papelão, seguem taxados e podem reduzir demanda.
Esse efeito pesa principalmente sobre a Klabin, fornecedora de caixas para exportação de carne e frutas, mas também atinge a Suzano de forma indireta.
Entre as três companhias, a exposição internacional varia: Suzano tem 80% da receita fora do Brasil, Klabin entre 35% e 40% e Irani quase toda no mercado interno. Ainda assim, analistas avaliam que a pior fase da tensão com tarifas já passou.