Exportações caem

Tarifaço de Trump já corta 4 mil empregos na indústria de madeira; a conta pode dobrar

Exportações despencam até 50% em agosto; setor pressiona governo Lula por negociação direta com os EUA e alerta para mais 4,5 mil demissões.

Apoio

Crédito: Depositphotos.
Crédito: Depositphotos.
  • 4.000 demissões já confirmadas e +4.500 previstas em 60 dias se o tarifaço continuar; exportações caíram 35%–50% em agosto.
  • Plano de contingência do governo alivia o caixa, mas setor exige negociação direta com os EUA para reverter o choque.
  • Sul concentra 90% da produção e sente o impacto primeiro; cadeias locais e empregos industriais viram linha de frente da crise.

A indústria brasileira de madeira entrou em modo de emergência. Desde a entrada em vigor das tarifas impostas por Donald Trump, o setor já demitiu cerca de 4.000 pessoas, segundo a Abimci. Como os Estados Unidos absorviam 50% da produção nacional, o baque nas exportações atingiu imediatamente fábricas e serrarias.

Além do choque inicial, empresários projetam mais 4.500 cortes nos próximos 60 dias se o tarifaço persistir. Enquanto isso, exportações caíram entre 35% e 50% em agosto, o que amplia o risco de uma onda de paralisações, férias coletivas e suspensões de contrato.

O que aconteceu

A sobretaxa americana entrou em vigor em agosto e provocou cancelamentos de contratos e embarques já em julho, segundo a Abimci. Desde então, o volume destinado aos EUA desabou, pressionando margens e fluxo de caixa das empresas.

Cerca de 5.500 trabalhadores foram colocados em férias coletivas e 1.100 entraram em lay-off, enquanto as companhias tentam atravessar o choque de demanda. Assim, a indústria busca alternativas de curto prazo para preservar capital de giro e reduzir queima de caixa.

No agregado, o setor emprega aproximadamente 180 mil trabalhadores formais. Por isso, as 4.000 demissões já representam 2% do total, e o risco de duplicar o número de desligamentos em dois meses acende um alerta social e regional.

Impacto no emprego e na produção

No chão de fábrica, a ociosidade aumentou e a programação de turnos foi reduzida. Como muitas operações dependem de escala, qualquer queda de volume deteriora produtividade e eleva o custo unitário.

Além disso, a ruptura dos embarques para os EUA quebra cadeias logísticas e trava pedidos planejados para o segundo semestre. Com isso, estoques sobem e receita recua, o que pressiona ainda mais decisões de corte.

Se o tarifaço persistir, o efeito multiplicador tende a se espalhar para fornecedores, transportadoras e serviços portuários, ampliando o impacto na economia do Sul, onde está ~90% da produção (PR, SC e RS).

Resposta do governo e cobrança do setor

Em agosto, o governo anunciou um plano de contingência: linhas de financiamento, adiamento de tributos federais, maior ressarcimento de créditos e ajustes nas garantias à exportação para buscar novos mercados.

O setor reconhece o alívio, mas classifica as medidas como paliativas. Para a Abimci, a solução passa por negociação direta Brasil–EUA, com adequação de tarifas. “Essa competência é exclusiva do governo federal”, diz a associação, que cobra agilidade diplomática.

Por sua vez, a falta de abertura de Washington também trava o avanço. Ainda assim, líderes industriais pedem uma ofensiva coordenada: diplomacia ativa, agenda com importadores e puente de curto prazo para preservar empregos.

Risco de persistência e próximos passos

Se as tarifas permanecerem, o setor projeta mais 4.500 demissões em 60 dias. Nesse cenário, empresas devem intensificar realocação de vendas para outros mercados, embora os preços e a logística possam reduzir competitividade fora dos EUA.

Ao mesmo tempo, companhias avaliam ajustes de portfólio (maior mix de produtos com valor agregado) e hedge cambial, para amenizar volatilidade de receita até que haja sinal diplomático.

No front político, Lula elevou o tom e afirmou que o Brasil “é dono do próprio nariz”. Ainda assim, analistas veem a negociação como inevitável para evitar perdas permanentes de mercado e um choque duradouro no emprego regional.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.