Risco eminente

Taxação de Haddad sobre LCI e LCA pode causar tsunami no mercado já em 2025 — veja por que analistas estão em alerta

Emissões podem disparar em 2025, pressionando prêmios e ampliando desequilíbrios entre risco e retorno, dizem especialistas da XP

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fernando haddad carreira 20101122 19 original
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As mudanças na tributação de investimentos anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), prometem alterar profundamente o mapa do mercado de renda fixa nos próximos anos — e não apenas quando passarem a valer oficialmente. A proposta de criar um imposto de 5% sobre os rendimentos de Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) a partir de janeiro de 2026, além de uma alíquota única de 17,5% para os demais títulos, pode ter efeitos colaterais imediatos já em 2025, segundo avaliação de analistas da XP Investimentos.

“Isso poderá elevar a projeção de emissões para 2025, tendo potencialmente impactos sobre os prêmios de crédito, que poderão intensificar a tendência de queda já observada desde 2024”, afirma a casa.

Na prática, o mercado antecipa movimentos. Com o fim da isenção no horizonte, a expectativa é de que emissores corram para aproveitar o último ano de benefícios fiscais, ofertando volumes elevados de LCI e LCA antes da virada da regra.

Essa corrida poderia gerar um aumento artificial na oferta de papéis, provocando uma distorção nos prêmios pagos — e, em última instância, prejudicando o equilíbrio do mercado.

Uma bola de neve antes da virada

A XP vê o cenário com preocupação. Com a oferta de títulos possivelmente inflada, os investidores podem começar a questionar se o retorno oferecido justifica o risco de crédito assumido.

Isso cria uma “bola de neve” de desequilíbrios, à medida que mais papéis são emitidos com prêmios em queda e risco crescente — exatamente o oposto do que se espera de um ambiente saudável de investimento.

Esse efeito seria negativo para o mercado, pois aprofundaria ainda mais a distorção entre retorno e risco, concluem os analistas.

LCI e LCA para compensar o IOF

O pacote faz parte da estratégia do governo para repor parte da arrecadação perdida com o recuo parcial no aumento do IOF, que sofreu forte resistência no Congresso. Além da taxação de LCI e LCA, o plano do Ministério da Fazenda inclui:

  • Tributação uniforme de 17,5% sobre títulos de renda fixa, independentemente do prazo de aplicação (fim da tabela regressiva);
  • Fim da isenção de dividendos de FIIs e Fiagros;
  • Aumento do IR sobre JCP (Juros sobre Capital Próprio) de 15% para 20%;
  • Elevação da CSLL para fintechs de 9% para 15%;
  • Revisão da carga tributária sobre bets, passando de 12% para 18%.

As novas regras, segundo o governo, terão início em 2026, mas a ansiedade do mercado já começa a aparecer nos relatórios de análise e nos bastidores das tesourarias de grandes instituições financeiras.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.