
As mudanças na tributação de investimentos anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), prometem alterar profundamente o mapa do mercado de renda fixa nos próximos anos — e não apenas quando passarem a valer oficialmente. A proposta de criar um imposto de 5% sobre os rendimentos de Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) a partir de janeiro de 2026, além de uma alíquota única de 17,5% para os demais títulos, pode ter efeitos colaterais imediatos já em 2025, segundo avaliação de analistas da XP Investimentos.
“Isso poderá elevar a projeção de emissões para 2025, tendo potencialmente impactos sobre os prêmios de crédito, que poderão intensificar a tendência de queda já observada desde 2024”, afirma a casa.
Na prática, o mercado antecipa movimentos. Com o fim da isenção no horizonte, a expectativa é de que emissores corram para aproveitar o último ano de benefícios fiscais, ofertando volumes elevados de LCI e LCA antes da virada da regra.
Essa corrida poderia gerar um aumento artificial na oferta de papéis, provocando uma distorção nos prêmios pagos — e, em última instância, prejudicando o equilíbrio do mercado.
Uma bola de neve antes da virada
A XP vê o cenário com preocupação. Com a oferta de títulos possivelmente inflada, os investidores podem começar a questionar se o retorno oferecido justifica o risco de crédito assumido.
Isso cria uma “bola de neve” de desequilíbrios, à medida que mais papéis são emitidos com prêmios em queda e risco crescente — exatamente o oposto do que se espera de um ambiente saudável de investimento.
“Esse efeito seria negativo para o mercado, pois aprofundaria ainda mais a distorção entre retorno e risco”, concluem os analistas.
LCI e LCA para compensar o IOF
O pacote faz parte da estratégia do governo para repor parte da arrecadação perdida com o recuo parcial no aumento do IOF, que sofreu forte resistência no Congresso. Além da taxação de LCI e LCA, o plano do Ministério da Fazenda inclui:
- Tributação uniforme de 17,5% sobre títulos de renda fixa, independentemente do prazo de aplicação (fim da tabela regressiva);
- Fim da isenção de dividendos de FIIs e Fiagros;
- Aumento do IR sobre JCP (Juros sobre Capital Próprio) de 15% para 20%;
- Elevação da CSLL para fintechs de 9% para 15%;
- Revisão da carga tributária sobre bets, passando de 12% para 18%.
As novas regras, segundo o governo, terão início em 2026, mas a ansiedade do mercado já começa a aparecer nos relatórios de análise e nos bastidores das tesourarias de grandes instituições financeiras.