Os títulos públicos negociados pelo Tesouro Direto alcançaram taxas recordes nesta sexta-feira (29), em meio à forte volatilidade desencadeada pelo anúncio de medidas fiscais do governo. Por volta das 13h, os papéis prefixados ofereciam rentabilidade de até 14% ao ano, enquanto os títulos atrelados à inflação (IPCA+) atingiram uma máxima de 7,21% ao ano.
A escalada nas taxas ocorreu após uma suspensão temporária das negociações na manhã de hoje, reflexo do estresse no mercado causado pelo pacote fiscal do Ministério da Fazenda. O conjunto de medidas inclui a isenção do Imposto de Renda (IR) para determinados contribuintes, em contrapartida a cortes de gastos públicos. Entretanto, analistas apontam para uma possível contradição na estratégia.
Como funcionam as taxas dos títulos?
Os preços e taxas dos títulos são inversamente proporcionais: quanto maior a taxa, menor o preço do papel. Assim, enquanto as novas aplicações podem garantir rentabilidade superior ao investidor que mantém o papel até o vencimento, aqueles que já possuem títulos em carteira podem enfrentar perdas momentâneas.
Reação do mercado ao pacote fiscal
A volatilidade observada nos mercados hoje reflete a recepção mista ao pacote anunciado pela Fazenda. A ampliação da isenção do IR foi vista como uma medida de grande apelo popular, mas com dificuldades políticas para equilibrar sua contrapartida de ajustes fiscais.
Segundo economistas consultados pelo jornal Valor Econômico, há um risco de que a isenção de impostos, mais fácil de ser aprovada, não seja compensada de forma suficiente pelas medidas que afetam os contribuintes de maior renda. Isso poderia gerar desequilíbrios nas contas públicas.
“Há uma percepção de descompasso entre as medidas. Aprovar a isenção é politicamente mais viável, mas as compensações são mais complexas e exigem articulação robusta no Congresso”.
Afirmou o economista Marcelo Oliveira, da Fundação Getulio Vargas (FGV) ao Valor Econômico.
Impactos nos juros futuros e na Selic
Os juros futuros, que indicam as expectativas do mercado para as taxas de financiamento, chegaram a subir mais de 0,6 ponto percentual nas primeiras horas do dia, provocando leilões extraordinários pela B3 devido à forte volatilidade.
A curva de juros aponta para um possível aumento da taxa básica Selic, atualmente em 13,75%, podendo alcançar 15% no auge do ciclo de aperto monetário conduzido pelo Banco Central.
Apesar do estresse inicial, declarações de líderes do Congresso contribuíram para moderar o pessimismo do mercado. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reforçaram o compromisso com o equilíbrio fiscal.