
- Trump fecha acordo com Japão e reduz tarifa para 15%, abaixo do esperado
- Bolsas globais sobem, moedas de risco se fortalecem e juros avançam
- Mercado vê possível trégua com Europa e China como próximo passo
O anúncio de um novo acordo comercial entre os Estados Unidos e o Japão reacendeu o apetite por risco nos mercados globais. Sendo assim, após meses de tensão com as políticas tarifárias do presidente Donald Trump, os investidores voltaram a se posicionar em ativos mais arriscados, diante da perspectiva de uma trégua mais ampla com outras grandes economias.
Além do Japão, os EUA também fecharam acordos com Indonésia e Filipinas, sinalizando que a escalada protecionista pode estar recuando. Desse modo, o resultado imediato foi um rali nas bolsas asiáticas, fortalecimento de moedas emergentes e queda nos preços dos títulos, enquanto os investidores respiram aliviados.
Tarifas menores e esperança renovada
No centro do otimismo está o fato de que as tarifas acordadas ficaram abaixo do esperado. No caso do Japão, o acordo prevê uma alíquota de 15% sobre importações, bem menor que os 30% inicialmente ameaçados por Trump. Com Indonésia e Filipinas, a taxa foi fixada em 19%, também mais branda que o piso de 20% aplicado ao Vietnã.
Além disso, esse recuo foi visto como sinal de pragmatismo por parte da Casa Branca, aumentando as chances de que negociações semelhantes sejam concluídas com a União Europeia e a China. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, já está reunido com autoridades chinesas na Suécia para tentar firmar um entendimento antes de 10 de agosto — data que poderia marcar uma nova rodada de sanções.
Ademais, para os analistas, a movimentação mostra que os EUA estão mais abertos a concessões do que sugeriam os discursos iniciais. Essa percepção impulsionou os principais índices de ações globais, incluindo o Topix japonês, que saltou 3% para o maior nível em um ano. A Toyota Motor liderou os ganhos com alta de 16%, seu melhor desempenho desde 1987.
Desse modo, na Europa, o Stoxx 600 subiu 1,2%, com destaque para as montadoras Porsche, Volkswagen e Stellantis, que avançaram mais de 6%. Ações de setores com exposição aos EUA, como farmacêutico e construção, também reagiram bem à nova onda de alívio tarifário.
Trump pressiona Fed e vira o jogo nos mercados
O ambiente pró-mercado também foi impulsionado por novas declarações de Trump contra o Federal Reserve. O presidente voltou a pedir cortes agressivos nos juros e afirmou que Jerome Powell “não entende” as necessidades da economia americana. Com isso, aumentou a pressão sobre o Fed para adotar uma postura mais dovish.
Sendo assim, o rendimento dos títulos do Tesouro americano de 10 anos subiu três pontos-base, para 4,38%, interrompendo uma sequência de cinco quedas. Já o dólar se fortaleceu frente a diversas moedas, diante da expectativa de cobertura de posições vendidas no curto prazo.
Ademais, para Jane Foley, estrategista do Rabobank, os acordos firmados com países asiáticos “reduzem o risco de recessão global e devem sustentar o apetite por risco nos próximos meses”. Ela também destacou que o gesto dos EUA pode acelerar o processo de diálogo com a Europa, o que geraria novo impulso para os mercados.
Ainda assim, os analistas mantêm certa cautela. Desse modo, as tarifas atuais ainda estão acima dos níveis de início do ano, e o risco de escalada permanece, especialmente em relação a blocos como União Europeia, Canadá e Brasil, que ainda não têm acordos formalizados.
Acordos aliviam temores, mas cenário segue volátil
Mesmo com o alívio recente, o mercado reconhece que ainda enfrenta riscos. O Deutsche Bank alertou que o Japão agradou com o acordo, mas que o Brasil e o Canadá ainda podem sofrer tarifas de até 50% se as conversas não avançarem até agosto.
Além disso, Mohit Kumar, estrategista da Jefferies, avalia que “o mundo pode lidar com tarifas de 15%, mas precisa de previsibilidade”. Para ele, a sinalização de que os EUA estão dispostos a negociar é mais importante do que o nível exato da tarifa.
Por ora, o sentimento é de trégua, não de resolução. Mas os investidores interpretam isso como suficiente para retomar o apetite por ativos de risco. Portanto, o momento agora depende de como Trump conduzirá as próximas etapas com a Europa e a China.