Choque global

Trump desafia Fed e mundo teme juros descontrolados: entenda o impacto no Brasil e no dólar

Disputa pela demissão de Lisa Cook gera temor de ingerência política no banco central dos EUA e já afeta moedas, bolsas e Treasuries.

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  • Trump tenta demitir diretora do Fed e gera embate inédito sobre independência do BC americano
  • Juros longos sobem e dólar oscila diante do risco de ingerência política e inflação futura
  • Analistas alertam que impacto pode se espalhar para moedas, commodities e bancos centrais de todo o mundo

A tentativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de demitir a diretora do Federal Reserve (Fed), Lisa Cook, abriu uma crise institucional sem precedentes. A disputa ameaça a independência do banco central mais poderoso do mundo e já provoca reação imediata nos mercados globais.

Enquanto os Treasuries de longo prazo subiram, refletindo expectativas de inflação futura, o dólar oscilou e analistas passaram a discutir como a ingerência política no Fed pode abalar o sistema financeiro internacional com impactos diretos também no Brasil.

O que aconteceu

Trump acusou Lisa Cook de fraude hipotecária e anunciou sua demissão, mas a diretora reagiu dizendo que o presidente não tem base legal para retirá-la do cargo. O caso deve ir parar nos tribunais, inaugurando uma disputa inédita entre a Casa Branca e o Fed.

Nos mercados, os juros de curto prazo caíram com apostas de cortes em setembro, mas os rendimentos de títulos de 30 anos avançaram, ampliando o spread para 1,17 ponto percentual, o maior do ano. Esse movimento revela temor de inflação maior no futuro.

O dólar DXY caiu 0,22%, mas a incerteza segue alta. Analistas já projetam turbulência prolongada caso Trump insista em interferir na composição do comitê de política monetária.

Por que isso mexe com o mundo todo

Segundo Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset, decisões sobre juros nos EUA influenciam diretamente o fluxo global de capitais. Quando os rendimentos americanos sobem, investidores levam recursos para o país, fortalecendo o dólar e pressionando moedas emergentes, como o real.

Esse movimento também encarece commodities e aumenta a inflação em diversas economias. Ou seja, uma decisão política em Washington pode alterar estratégias de bancos centrais do Brasil à Europa.

Por outro lado, se Trump conseguir reduzir juros “na marra”, como defendem alguns aliados, o efeito imediato seria de alívio, mas com risco de inflação elevada no médio prazo, o que obrigaria o Fed a voltar a subir taxas.

O risco de perder confiança

Para Ian Lima, gestor da Inter Asset, o ponto central é a credibilidade. A simples percepção de que o Fed pode deixar de ser independente já gera imprevisibilidade, reduz a previsibilidade de política monetária e pode abalar a confiança de investidores globais.

O Nobel de Economia Paul Krugman foi além: classificou o episódio como “profundo e desastroso”, com potencial de destruir a independência institucional nos EUA. Ele alertou que o verdadeiro motivo da tentativa de demissão não é técnico, mas político, já que Cook não se submete às pressões da Casa Branca.

Por ora, a reação nos mercados foi contida: o Ibovespa recuou 0,18%, aos 137.771 pontos, e o dólar comercial avançou 0,34%, a R$ 5,43. Mas especialistas alertam que a escalada pode ser rápida caso a disputa judicial evolua de forma negativa.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.