
- Nvidia e AMD concordaram em repassar 15% da receita de vendas de chips para a China ao governo dos EUA.
- Especialistas apontam possível violação da Constituição americana e alertam para “capitalismo de compadrio”.
- Acordo ocorre em meio à disputa EUA-China por liderança em tecnologias estratégicas.
O governo dos Estados Unidos e duas gigantes de tecnologia fecharam um acordo que surpreendeu o mercado global. Nvidia e AMD aceitaram repassar parte da receita obtida com vendas de chips para a China diretamente aos cofres americanos.
A medida, vista como inédita por especialistas, surge em meio a uma disputa crescente entre Washington e Pequim pelo controle de tecnologias estratégicas. O arranjo já provoca questionamentos sobre legalidade e impactos econômicos.
Acordo sem precedentes
A negociação prevê que Nvidia e AMD entreguem ao governo americano 15% da receita obtida com modelos específicos de chips destinados ao mercado chinês. Entre eles, estão o H20 AI Accelerator, da Nvidia, e o MI308, da AMD — ambos sujeitos a restrições de exportação.
Antes, as vendas desses componentes estavam suspensas por decisão da própria administração Trump, que citava riscos à segurança nacional. Em julho, a Casa Branca recuou parcialmente, permitindo exportações limitadas mediante licenças especiais.
De acordo com Stephen Olson, ex-negociador comercial dos EUA, o modelo abre caminho para um “mundo novo e perigoso”. Ele compara o acerto a uma monetização da política comercial americana, criando um precedente para que empresas precisem “pagar para exportar”.
Impactos e riscos
O acordo marca mais uma intervenção direta do governo Trump em decisões corporativas. Desde seu retorno à Casa Branca, o republicano já condicionou fusões, impôs tarifas seletivas e pressionou empresas a investir nos EUA.
A legalidade da medida é alvo de debate. Juristas apontam semelhança com um imposto de exportação, prática proibida pela Constituição americana. Para críticos, a ausência de supervisão adequada pode consolidar um cenário de “capitalismo de compadrio”, beneficiando quem aceita os termos de Washington.
A China reagiu com críticas. Um perfil ligado à TV estatal acusou os chips H20 de baixa eficiência e falhas de segurança, mas analistas afirmam que empresas chinesas podem continuar comprando os modelos devido à falta de produção interna suficiente.
Disputa global pelos semicondutores
Os chips estão no centro da corrida tecnológica entre EUA e China, impulsionada por setores como inteligência artificial e automação industrial. O governo Biden havia limitado a exportação de modelos avançados para Pequim, levando a Nvidia a criar versões adaptadas para contornar as barreiras.
Agora, com a mudança de postura, Trump busca manter empresas chinesas dependentes da tecnologia americana. Nesse sentido, o secretário de Comércio, Howard Lutnick, chegou a dizer que a estratégia é deixar desenvolvedores “viciados” nos produtos dos EUA.
Desse modo, Pequim acompanha de perto as negociações e aguarda a decisão de Trump sobre a trégua comercial de 90 dias, que expira em 12 de agosto. Há expectativa de que ela seja prorrogada para permitir novos avanços diplomáticos.
Possíveis desdobramentos
Para Deborah Elms, da Hinrich Foundation, o precedente abre espaço para acordos semelhantes em outros setores. “O céu é o limite”, afirmou, prevendo negociações específicas por empresa ou país.
Além disso, se o modelo se espalhar, companhias poderão ter de escolher entre se submeter a pagamentos diretos ao governo americano ou perder acesso a mercados estratégicos. Isso poderia alterar profundamente as cadeias globais de suprimentos.
Enquanto isso, Nvidia e AMD evitam confrontar publicamente a Casa Branca. Por fim, a Nvidia declarou apenas que segue as regras estabelecidas pelo governo. Já a AMD, até o momento, não se manifestou sobre o caso.