
- Múltiplo baixo não significa oportunidade: A ação negocia a P/B de 0,2×, mas entrega ROIC inferior a 5% e margem Ebitda fraca, o que justifica a desconfiança do mercado.
- Setor pressionado pela China: A invasão de aço chinês no Brasil mantém os preços deprimidos, travando o desempenho da Usiminas.
- Investimentos pesados à frente: A empresa prevê R$ 5 bilhões em capex até 2028, o que pode limitar dividendos e crescimento no curto prazo.
Com valor de mercado próximo de R$ 6 bilhões e uma relação preço/valor patrimonial (P/B) em torno de 0,2×, a ação da siderúrgica chama atenção de quem busca barganhas na Bolsa. No entanto, o mercado parece ter razões sólidas para manter distância.
Enquanto investidores iniciantes podem olhar para o múltiplo e enxergar um “desconto imperdível”, analistas experientes veem outra realidade. A estrutura financeira da Usiminas (USIM5) e os desafios setoriais pesam mais do que o preço aparentemente atrativo.
Valor baixo, desempenho pior ainda
O BTG Pactual jogou um balde de água fria na empolgação com USIM5: manteve a recomendação neutra, mesmo com a ação negociando com um dos menores múltiplos da B3. Isso acontece porque a rentabilidade da companhia está em níveis extremamente baixos — com retorno sobre capital investido (ROIC) inferior a 5% e margem Ebitda de apenas 5%.
Em outras palavras, a empresa está entregando pouco resultado sobre o capital aplicado. Segundo os analistas, o valuation “baixo” faz sentido, pois a capacidade de geração de valor está comprometida. E mais: mesmo que os preços do aço subam, isso pode não ser suficiente para destravar o valor da ação.
Além disso, o guidance divulgado no segundo trimestre mostra que o investimento de capital (capex) deve consumir R$ 1 bilhão por ano, e ainda há uma modernização de R$ 1,7 bilhão programada para os próximos quatro anos. Um custo altíssimo para uma empresa que não gera tanto caixa assim.
Pressão chinesa e cenário sombrio
A maior dor de cabeça para a Usiminas continua sendo a concorrência com o aço chinês. Importado com preços extremamente competitivos, o aço da China invadiu o mercado brasileiro e pressionou para baixo as margens das siderúrgicas locais.
Apesar de alguma recuperação no volume vendido no segundo trimestre, os preços seguiram em queda. E, como as despesas fixas seguem elevadas, o impacto no Ebitda é direto. Não à toa, o BTG reduziu sua projeção para o indicador, que agora deve fechar o ano em apenas R$ 1,3 bilhão.
Mesmo com uma gestão considerada sólida, a companhia encontra barreiras estruturais para crescer. A falta de previsibilidade no mercado de aço e os altos custos operacionais são fatores que mantêm os grandes investidores afastados — mesmo com o papel cotado a um valor historicamente baixo.
Armadilha ou oportunidade?
O dilema está lançado: Usiminas é uma pechincha ou uma armadilha para os desavisados? O múltiplo de 0,2x P/B parece gritar “compra”, mas não é isso que os gestores institucionais estão fazendo. O papel segue ignorado por carteiras recomendadas e fundos de peso.
Parte dessa desconfiança está no fato de que não há sinais claros de reversão estrutural. O setor siderúrgico brasileiro continua sendo impactado por excesso de oferta global, alto custo de produção interno e investimentos pesados de capital que consomem o pouco caixa gerado.
Mesmo com o anúncio de modernizações e avanços operacionais, o horizonte da Usiminas ainda parece nebuloso. Para quem busca oportunidade de curto prazo, o risco pode ser alto demais. Já para quem aposta em uma eventual reviravolta do setor, é preciso estômago — e paciência.