
- S&P elevou o rating da Vale para BBB, após avanços em governança e barragens
- Companhia seguirá pressionada por custos bilionários com Mariana e Brumadinho até 2031
- Crescimento futuro depende de maior produção de minério e cobre, mas com preços mais baixos
A Vale (VALE3) entrou em um novo ciclo de avaliação internacional. A S&P Global Ratings elevou a nota de crédito da companhia de BBB- para BBB, com perspectiva estável, citando avanços no descomissionamento de barragens e na governança. O upgrade reforça a percepção de que a mineradora superou os anos de maior desconfiança após Brumadinho, mas não elimina os riscos financeiros associados às indenizações.
Segundo a agência, a decisão veio após a mineradora remover sua última barragem do nível 3 de emergência, em agosto, e melhorar seus processos de supervisão e controles internos. A gestão, antes vista como negativa, agora é classificada como neutra no rating. Apesar disso, os compromissos bilionários com Mariana e Brumadinho continuarão pressionando o caixa da empresa até o início da próxima década.
Governança em foco
A S&P destacou que a Vale manteve quatro barragens no nível 2 de risco, mas que seu programa de descomissionamento deve ser concluído até 2035. Para a agência, o reforço da cultura organizacional e a ênfase em redução de riscos demonstram uma mudança relevante de postura desde a tragédia de 2019. Investimentos em segurança e indenizações reforçaram a visão de que a companhia internalizou políticas robustas de controle de riscos.
A agência também ressaltou que a administração incorporou as metas de governança à remuneração de executivos e funcionários, alinhando a estratégia à execução. Esse movimento foi considerado crucial para a elevação do rating e para a percepção de maior resiliência institucional. A avaliação da S&P é de que a Vale está mais bem preparada para enfrentar crises futuras.
Além disso, a S&P manteve os ratings da Vale Canada Ltd em BBB-, citando sua importância estratégica para o grupo, em linha com a Vale Base Metals.
Pressão financeira bilionária
Apesar dos avanços, a S&P deixou claro que os custos com indenizações e reparações ainda pesam. Estima-se que a Vale terá saídas de caixa de US$ 3,6 bilhões em 2025 e US$ 2,5 bilhões em 2026, principalmente ligadas a Mariana e Brumadinho. No caso de Mariana, o acordo definitivo de mais de R$ 170 bilhões está apenas 28% concluído; já Brumadinho, de R$ 63 bilhões, alcançou 75% de execução.
Grande parte desses valores segue destinada a projetos sociais e ambientais, como os conduzidos pela Fundação Renova. A agência reforçou que o programa de reparação de Brumadinho deve continuar até 2031, o que representa uma carga de longo prazo sobre a empresa.
Ou seja, mesmo com rating maior, o mercado deve observar os impactos recorrentes dessas obrigações nas margens da Vale, que ainda enfrentará anos de fluxo de caixa restrito.
Produção, preços e futuro
A S&P também revisou suas projeções de ebitda para baixo, em função de preços menores do minério de ferro e do cobre, mesmo com o aumento esperado de volumes. A mineradora, que redesenhou sua estratégia para priorizar rentabilidade sobre volumes, terá de lidar com margens pressionadas enquanto a alavancagem sobe temporariamente em 2025.
No entanto, a expectativa é de que a alavancagem continue abaixo de 2 vezes, com melhora gradual após 2025. A produção de Vargem Grande, Capanema e Brucutu deve impulsionar o minério de ferro, enquanto Salobo e Bacaba devem sustentar o crescimento no cobre.
A perspectiva estável reflete a visão da S&P de que a Vale pode ajustar dividendos, capex e recompras para manter liquidez e solvência. Para investidores, o upgrade dá um sinal positivo de credibilidade internacional, mas não elimina os riscos de longo prazo.