
O BTG Pactual teve a oportunidade de revisar a direção da Vale (VALE3) em um momento em que o setor de mineração atravessa incertezas globais — da fragilidade da demanda chinesa ao avanço de novos projetos como Simandou, na África.
Após reunião com o CEO Gustavo Pimenta e o CFO Marcelo Bacci, realizado em São Paulo, o banco manteve sua recomendação ‘neutra’ para VALE3, com um preço-alvo de R$ 65,00 por ação.
No entanto, o banco destaca que, apesar do cenário macroeconômico desafiador, a mineradora transmite uma mensagem de foco disciplinado e aposta em um modelo de gestão mais enxuto e pragmático.
Segundo o BTG, a companhia segue firme em suas diretrizes: manter capex moderado, evitar aquisições agressivas e priorizar a geração de valor ao acionista via recompra de ações, e não dividendos extraordinários.
“Gostamos da mensagem da administração e acreditamos que a empresa está focada em controlar o que está ao seu alcance”, resume o banco.
Minério de ferro: Vale vê cenário menos sombrio
A grande divergência entre o BTG e a Vale está no cenário do minério de ferro. Enquanto o banco mantém uma visão cautelosa — prevendo queda para US$ 90/toneladas em 2025 e US$ 85/t em 2026 — a mineradora acredita que os fundamentos podem surpreender positivamente.
A administração defende que o mercado subestima a perda de capacidade global, estimada entre 50 e 60 Mtpa, e que a entrada gradual de Simandou a partir de 2026 não será suficiente para desequilibrar a balança.
Além disso, reformas do lado da oferta na China e a pressão sobre margens siderúrgicas podem sustentar os preços em patamares razoáveis.
“A empresa enxerga forte suporte na faixa de US$ 80–90/t, considerando que cerca de 200Mtpa da capacidade global estaria operando no prejuízo nesses níveis”, destaca o banco.
Uso do caixa: recompra no lugar de dividendos
Com ações negociadas a múltiplos deprimidos (~4,3x o EBITDA de 2025), a Vale optou por recompra de ações como forma de retorno ao acionista — decisão vista como sensata pelo BTG.
Ao mesmo tempo, a empresa planeja reduzir sua dívida líquida para US$ 15 bilhões no segundo semestre de 2025, o que deve limitar pagamentos extraordinários no curto prazo.
Ainda assim, se o minério sustentar preços acima de US$ 100/t, o banco acredita que há espaço para distribuições adicionais de caixa.
Cobre: a aposta da próxima década
Fora do ferro, a Vale segue confiante no potencial do cobre, com metas de aumentar a capacidade atual (350ktpa) para até 500ktpa até o fim da década.
O projeto Bacaba, em Carajás, surge como substituto natural do Sossego e ilustra a aposta em crescimento orgânico e disciplinado.
“Apesar das aspirações de longo prazo, consideramos mais realista atingir 400–500ktpa”, pondera o BTG.
Níquel: cautela máxima e contenção de perdas
Já no segmento de níquel, a estratégia é clara: minimizar perdas e preservar valor. Com os preços abaixo do ideal e a demanda ainda pressionada, a empresa busca cortar custos e reavaliar ativos, podendo desativar ou vender projetos menos promissores.
“O foco é estancar o sangramento”, sintetiza o BTG, citando o atual consumo de caixa da divisão.
Macro desafiador pesa mais que execução sólida
Mesmo com elogios à condução estratégica da companhia, o BTG mantém recomendação neutra para VALE3, citando o ambiente macro ainda frágil — especialmente na China — e a ausência de gatilhos claros para reprecificação no curto prazo.
“Ainda achamos desafiador identificar um potencial substancial de valorização sob a ótica de valuation”, conclui o banco.