Crise chinesa

Vanke desaba em Hong Kong e reacende temor de novo default na China

Dívida crescente, vendas fracas e falta de apoio claro do governo colocam a incorporadora à beira de um colapso.

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Crédito: Depositphotos.
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  • Crise imobiliária continua, com projeções negativas para preços, vendas e fluxo de caixa do setor.
  • Vanke enfrenta colapso, com ações e títulos despencando ao menor nível em um ano.
  • Risco de default cresce, pressionado por vencimentos de 13,4 bilhões de yuans e pouco espaço para novos empréstimos.

A Vanke, uma das maiores incorporadoras da China e referência do setor, viu suas ações caírem para o menor nível em mais de um ano, enquanto seus títulos despencam diante do risco crescente de inadimplência. O mercado teme que a empresa não consiga honrar os vencimentos de curto prazo, mesmo com apoio limitado do Estado.

A deterioração rápida reforça o alerta sobre a crise imobiliária chinesa, que segue pressionando preços, vendas e financiamento, apesar de medidas recentes de flexibilização.

Títulos desabam e mercado trava

Os títulos locais da Vanke ampliaram quedas nesta quarta (26), com o papel que vence em 2028 recuando para 65 yuans, após paradas momentâneas nas negociações. O título em dólar com vencimento em 2027 atingiu cerca de 40 centavos, depois de bater 12 centavos na véspera, o pior nível desde janeiro. Dessa forma, os investidores passam a precificar um cenário de forte estresse.

Além disso, as ações negociadas em Hong Kong caíram 5,8%, para HK$ 3,90, mínima de um ano. A queda sinaliza perda de confiança e acelera a pressão sobre a empresa. Assim, o mercado considera que o risco sistêmico pode aumentar caso a incorporadora falhe em seus compromissos.

Embora o governo tenha testado medidas de estímulo em setembro, seus efeitos já desapareceram. Agora, a dúvida recai sobre a capacidade das autoridades de evitar um contágio maior no setor.

Falta de caixa expõe risco imediato

A Vanke enfrenta 13,4 bilhões de yuans em vencimentos de títulos até junho de 2026, valor superior ao limite de financiamento ainda disponível pelo seu maior acionista, a estatal Shenzhen Metro Group. A companhia já recebeu parte dos 30 bilhões de yuans que garantiram sua sobrevivência no ano, mas o espaço remanescente é pequeno. Dessa forma, a incorporadora segue dependente de “transfusões externas”.

Analistas afirmam que a empresa perdeu capacidade de gerar caixa. As vendas contratadas podem cair mais de 40% em 2025, segundo projeções da Bloomberg Intelligence. Além disso, a companhia terá de enfrentar testes adicionais em dezembro, quando vencem dois papéis locais de 2 bilhões e 3,7 bilhões de yuans. Para propor extensão, a Vanke precisaria de 90% de apoio dos credores.

O apoio estatal pode evitar o default imediato, porém não garante recuperação. Assim, investidores seguem cautelosos com todo o segmento de alto risco imobiliário.

Crise amplia pressão sobre o governo

A deterioração da Vanke expõe um problema maior: o setor imobiliário chinês segue fraco, mesmo após estímulos e promessas de resgate. Bancos globais, como UBS, projetam queda adicional nos preços por pelo menos dois anos. A Fitch estima retração de até 20% em novas vendas antes de estabilização.

Além disso, reguladores chineses intensificam o escrutínio sobre falhas de divulgação em emissões de dívida. O movimento tenta evitar colapsos surpresa, mas reforça que o governo está mais vigilante do que disposto a salvar todas as empresas.

A posição da Vanke como barômetro do setor aumenta o peso político. Um default poderia comprometer a credibilidade de outras estatais do mercado imobiliário e acelerar a queda dos preços das residências. Dessa forma, o caso se transforma em um teste de autoridade para Pequim.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.