
- Itaú BBA, XP e Kinea suspendem operações com a Virgo após denúncias de uso irregular de fundos
- Denúncia formal na CVM acusa o controlador Ivo Kos de movimentar R$ 240 milhões sem autorização
- Crise ameaça reputação da securitizadora, que administra mais de R$ 90 bilhões em ativos
A Virgo, securitizadora que administra mais de R$ 90 bilhões em ativos, entrou em colapso de confiança depois que vieram à tona denúncias de movimentação irregular de fundos de clientes. O caso já provoca reações duras no mercado.
Nesta semana, três gigantes, Itaú BBA, Kinea e XP, decidiram suspender novas operações com a companhia. O episódio ameaça a sobrevivência da Virgo, que agora trava uma batalha para salvar sua credibilidade no coração da Faria Lima.
Bancos e gestoras cortam relações
A crise se intensificou quando o Itaú BBA, desconfiado da conduta da securitizadora, contratou a concorrente Opea para revisar operações feitas em conjunto com a Virgo. O movimento sinaliza a intenção de trocar de parceiro fiduciário.
Kinea e XP, duas das casas que tiveram recursos de fundos de reserva usados sem autorização, também partiram para medidas drásticas. A XP retirou a Virgo da emissão de um CRI de R$ 700 milhões da Buriti Brasil Terrenos, decisão tomada junto com Itaú BBA, Banco ABC e Bradesco BBI.
No mercado, o recado foi direto: as instituições preferem interromper o relacionamento a correr riscos de governança. Para analistas, essa desconfiança é o maior golpe já sofrido pela securitizadora desde sua fundação.
Denúncias e disputa interna
O caso ganhou contornos ainda mais explosivos com as acusações do executivo Eduardo Levy, que deixou a Virgo em julho após brigar com o controlador Ivo Kos. Ele protocolou uma denúncia formal na CVM, apresentando prints que implicariam Kos no uso indevido dos fundos de reserva.
Segundo Levy, cerca de R$ 240 milhões foram movimentados irregularmente para sustentar a emissão do CRI da Cedro Participações. Ademais, como não houve demanda no mercado, a Virgo teria recorrido a recursos de clientes para honrar a garantia da operação.
Desse modo, a disputa se tornou quase bélica. Enquanto Levy acusa Kos de manipular os recursos, o controlador rebate e afirma que não houve violação de regras. Nos bastidores, porém, o clima é de guerra aberta entre os dois.
Governança em xeque
Apesar das acusações, nenhum fundo registrou prejuízo até o momento. O problema central está na governança: clientes não foram informados e não autorizaram a movimentação dos recursos. Esse fator ameaça o pilar básico de confiança no papel da securitizadora.
Além disso, fontes próximas à empresa argumentam que as movimentações fazem parte da dinâmica de um fundo com liquidez diária, mas a narrativa não convenceu o mercado. Para os gestores, a dúvida sobre a segregação de patrimônio é suficiente para romper a parceria.
A própria Virgo se defende. Em nota, a companhia disse que não violou nenhuma lei ou regulamento e destacou seu histórico de mais de 900 operações sem registro de irregularidades. Portanto, a Kinea também divulgou posicionamento, afirmando que acompanha o caso e não identificou impacto financeiro em seus fundos.
Futuro incerto para a securitizadora
Com R$ 90 bilhões sob gestão, a Virgo enfrenta agora a tarefa mais difícil: reconquistar a confiança de bancos e gestoras. O processo para trocar de securitizadora é burocrático e pode dar tempo à companhia, mas o mercado já enxerga uma mancha profunda em sua reputação.
Enquanto isso, investidores acompanham de perto os desdobramentos. Ademais, a crise expõe as fragilidades do setor de securitização no Brasil, em que governança e transparência são condições essenciais para manter grandes clientes.
Na Faria Lima, o consenso é que o caso ainda vai se arrastar por semanas, com novos capítulos em tribunais e mesas de negociação. Por fim, o risco de contágio a outras operações segue no radar.