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Professor Doutor do Mestrado Profissional em Economia e Mercados da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Nos últimos dias, as discussões em torno da criação de uma “moeda” para os países do Mercosul foram caracterizadas por inúmeras críticas e dúvidas, que sinalizam potenciais problemas de comunicação e possíveis incertezas sobre as economias, em especial sobre a economia brasileira.
Uma “moeda única” tem como característica a substituição das moedas nacionais dos países por uma moeda comum e o melhor exemplo de moeda única é o Euro, que substituiu o Marco alemão, o Franco francês e as moedas de todos os países da Europa que aderiram ao Euro.
Uma “unidade de conta” é um mecanismo que permite a realização de transações entre pessoas (ou países neste caso) em que as moedas são convertidas para a realização da troca, mas cada país continua com sua própria moeda. Tem-se o caso da “moeda veículo” ou uma “moeda virtual”, que não substitui a moeda de cada um dos países. Após o acordo de Bretton Woods estabelecido após o fim da II Guerra Mundial, o dólar se transformou na moeda veículo, ou seja, as transações internacionais se baseavam na conversão das várias moedas para o dólar americano.
Há ainda, uma outra possibilidade, que é a troca direta de Reais por Pesos argentinos em transações internacionais de bens (operações de importação e exportação do Brasil para a Argentina e vice-versa). Esse sistema foi formalizado por Brasil e Argentina em 2008 e elimina a necessidade de conversão para dólares nas transações internacionais. É o chamado Sistema de Pagamento em Moeda Local (SML), que atualmente funciona para outros países também, como Uruguai e Paraguai.
Ao que tudo indica, a Argentina, com uma economia bastante debilitada e com uma moeda que já enfrentou perda de confiança pelos próprios Argentinos, acredita que resolverá seus problemas econômicos com uma fórmula mágica: uma moeda única. Entretanto, inúmeros estudos e pesquisas mostram a inviabilidade de uma moeda única no Mercosul no curto e médio prazos diante de inúmeras assimetrias entre seus membros, entre uma série de outros fatores. Além disso, a moeda única não resolveria os problemas estruturais econômicos da Argentina.
Já o Brasil, com uma economia relativamente mais estável que a Argentina do ponto vista macroeconômico, deseja a criação de uma unidade de conta ou a moeda veículo com o objetivo de ampliar o comércio com os países do Mercosul e com a América do Sul. O Brasil não quer, e com razão, substituir o Peso e o Real por uma nova moeda comum. Ao menos, é o que vem sendo dito pela equipe econômica, mesmo que de forma não muito clara, após as críticas em relação a uma possível moeda única.
Há necessidade, entretanto, de esclarecimentos sobre várias questões: dado que o SML já existe, qual a necessidade de se criar uma moeda? Seria melhor ampliar e popularizar o SML, que dispensa o uso do dólar nas transações entre os países. Não ficou claro, também, de que forma a proposta, tanto de uma moeda única, quanto de uma unidade de conta, resolveria as dificuldades de importação da Argentina. Tais dificuldades decorrem de desequilíbrios econômicos internos e não podem ser resolvidas por acordos dessa natureza. Enquanto isso, a falta de clareza das equipes econômicas sobre o que se espera, efetivamente, amplia as incertezas que afetam expectativas futuras sobre ambas as economias.
Por Pedro Raffy Vartanian.
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