O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil anunciou uma nova redução na taxa Selic, o que representa um corte de 0,50 ponto percentual, levando a taxa de juros básicos da economia de 12,25% para 11,75% ao ano. Essa decisão, que foi unânime entre os membros do Comitê, marca a quarta redução consecutiva na taxa Selic, atingindo o menor patamar desde março de 2022, quando estava em 10,75%.
A decisão do Copom está alinhada às expectativas do mercado financeiro. A projeção da Refinitiv, que compilou as estimativas de analistas, já indicava essa redução para 11,75%. Esse movimento reflete a análise atual do cenário econômico, marcado por um processo desinflacionário mais lento do que o esperado, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global repleto de desafios.
O comunicado emitido junto à decisão enfatiza a importância de manter uma política monetária contracionista. O Copom destaca que é crucial persistir com essa abordagem até que se consolide tanto o processo de desinflação quanto a ancoragem das expectativas de inflação em torno das metas estabelecidas.
Além disso, foi mantida a orientação futura (forward guidance) de que, se confirmadas as expectativas atuais, o Copom prevê uma redução de mesma magnitude nas próximas reuniões. Essa abordagem é considerada apropriada para manter a política monetária necessária ao processo de desinflação.
O Comitê também ressaltou que a extensão total do ciclo de flexibilização monetária dependerá de vários fatores. Entre eles, destacam-se a evolução da dinâmica inflacionária, especialmente dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, as expectativas de inflação de longo prazo, as projeções de inflação, o hiato do produto e o balanço de riscos.
Este cenário de redução da Selic para 11,75% abre novas perspectivas para investimentos em renda fixa, ações e fundos de investimento imobiliários (FIIs), adaptando as estratégias de investimento ao novo patamar de juros.
O que é o COPOM?
O COPOM é um comitê do Banco Central do Brasil responsável por definir a taxa básica de juros da economia, conhecida como SELIC. O comitê é composto por membros do Banco Central, incluindo o presidente da instituição, e se reúne a cada 45 dias para avaliar o cenário econômico e decidir se mantém, aumenta ou diminui a taxa SELIC.
O que é a SELIC?
A SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela serve como referência para outras taxas de juros do mercado, como empréstimos, financiamentos e investimentos. A SELIC é usada pelo Banco Central como uma ferramenta de política monetária para controlar a inflação, influenciando a atividade econômica.
Como o COPOM e a SELIC afetam a economia brasileira?
- Controle da Inflação: A principal função da SELIC é controlar a inflação. Quando a inflação está alta, o COPOM pode decidir aumentar a SELIC para desestimular o consumo e reduzir a pressão inflacionária. Por outro lado, se a economia precisa de estímulo, o COPOM pode baixar a SELIC para incentivar o consumo e o investimento.
- Impacto nos Investimentos: A taxa SELIC influencia diretamente a rentabilidade de diversos investimentos, como a poupança, títulos públicos e outros ativos de renda fixa. Um aumento na SELIC geralmente torna esses investimentos mais atrativos, enquanto uma diminuição pode levar os investidores a buscar alternativas com maior risco e retorno.
- Crédito e Consumo: Uma SELIC mais alta encarece o crédito, pois as taxas de juros de empréstimos e financiamentos tendem a aumentar. Isso pode reduzir o consumo e o investimento das empresas. Inversamente, uma SELIC mais baixa torna o crédito mais acessível, podendo estimular o consumo e o investimento.
- Câmbio e Balança Comercial: A taxa SELIC também tem impacto no câmbio. Uma taxa mais alta pode atrair capital estrangeiro, valorizando o real, o que pode impactar as exportações. Uma SELIC mais baixa pode ter o efeito contrário, desvalorizando o real e potencialmente estimulando as exportações.
Confira abaixo o comunicado completo:
O ambiente externo segue volátil e mostra-se menos adverso do que na reunião anterior, marcado pelo arrefecimento das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos e de sinais incipientes de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom. A inflação cheia ao consumidor, conforme esperado, manteve trajetória de desinflação, com destaque para as medidas de inflação subjacente, que se aproximam da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,5%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,6% em 2023, 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,1% em 2023, 4,5% em 2024 e 3,6% em 2025.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária.
Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.
Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 11,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.
* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,90, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento, que passou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.
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