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A Americanas é a vilã da queda de desempenho do Santander no 4T22?

Foto/Reprodução GDI
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O resultado divulgado após o pregão desta quarta-feira (1), serviu como combustível para a insegurança do mercado com o desempenho do banco, especialmente após o caso Americanas.

Sem dar detalhes sobre o assunto, o Santander deu a entender que provisionou o caso da Americanas no nível E, que exige provisões de 30% do crédito. Para analistas, como a empresa pediu recuperação judicial, o mínimo que deveria ter sido provisionado era 50%, mas os bancos normalmente provisionam até mais, em torno de 70%.

“Eles fizeram isso para não impactar tanto esse trimestre. Mas o esperado é que no primeiro tri eles provisionem mais uns 40% dessa exposição de R$ 3,5 bilhões,” disse um analista.

Como o primeiro banco a reportar, o Santander está dando o tom do que os outros bancos devem fazer nas próximas semanas – começar a provisionar a Americanas já no quarto tri – mas em alguns deles é provável que o provisionamento seja maior que os 30%.

Além do impacto da Americanas, o resultado do Santander também teve outros problemas. A margem financeira caiu em parte por conta da estratégia de descasamento de ativos e passivos que o banco adotou entre 2020 e 2021. Com Selic muito baixa naqueles anos, o banco tomou muito funding a taxas pós-fixadas, ao mesmo tempo em que deu crédito a taxas pré. Enquanto a Selic estava baixa, o Santander ganhou dinheiro com a estratégia – mas quando o juro subiu, o resultado virou.

“Eles também fizeram hedge do capital em IPCA e não em CDI. Como tivemos períodos de deflação, isso machucou o resultado da tesouraria,” disse um analista.

Na call com o mercado hoje cedo, o CEO Mario Leão disse que as novas safras estão vindo “melhores que aquelas que estávamos produzindo há três, quatro trimestres.”

“Temos que entender que o mercado é cíclico,” disse Mario. “Estamos gerenciando o banco através dos ciclos e não para este trimestre ou o próximo. Hoje, o ciclo está gerando pressão na receita, mas estamos melhorando na qualidade do risco.”

Desde o final de 2021, segundo ele, o Santander está sendo bem mais seletivo em termos do apetite de risco e do rating das novas safras. Apesar de melhorar a qualidade da carteira, “o modo risk-off está machucando a margem financeira líquida, enquanto as perdas com provisões continuam com uma tendência de alta, o que deve continuar pressionando o ROE em 2023,” escreveu Eduardo Rosman, do BTG.

“Por conta dessa política de maior seletividade, um maior foco em linhas de crédito colateralizadas e menos dias de trabalho, o spread médio dos empréstimos caiu 0,52 pontos, para 10,2%.”

Com o resultado fraco, o BTG rebaixou o Santander para ‘venda’, dizendo que “depois de anos de forte crescimento, o banco parece agora estar ‘pagando as contas’.” O Santander negocia a 7,5x seu lucro estimado para o ano que vem e a 1,1x seu valor patrimonial.

Desempenho no 4T22

Assim, o banco reportou lucro líquido gerencial de R$ 1,689 bilhão no quarto trimestre de 2022 (4T22), cifra 46% menor do que o reportado no terceiro trimestre de 2022 e uma queda de 56% na comparação com o mesmo período de 2021, informou a instituição financeira nesta manhã de quinta-feira (2).

O número ficou 41,04% abaixo do consenso Refinitiv, que previa lucro líquido reportado de R$ 2,864 bilhões.

O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês), um dos principais indicadores quando se trata de balanço operacional do setor bancário e que mede como um banco remunera o capital de seus acionistas foi de 8,35% no 4T22. Portanto, uma queda de 7,3 pontos percentuais no trimestre.

Em 2022, o índice ficou em 16,3%, 4,9 pontos percentuais abaixo em relação a 2021.

O lucro líquido foi de R$ 12,9 bilhões em 2022 com queda de 21,0% se comparado com o mesmo período do ano anterior.  O ano foi marcado pelo aumento das provisões em 72,7%, diante da maior inadimplência de clientes pessoas físicas. Além disso, as margens do Santander foram pressionadas por perdas da tesouraria, diante do impacto negativo da alta dos juros sobre a carteira de títulos do banco.