
- O secretário de Trump sinaliza que os EUA podem excluir produtos como manga e café do tarifaço por não produzi-los internamente
- Parlamentares brasileiros tentam negociar isenções específicas para frutas e bebidas exportadas
- Possível exceção pode salvar até 90% das exportações do agro brasileiro para os EUA, segundo a Abrafrutas
Em meio à iminente entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos, uma declaração do secretário de Comércio do governo Trump reacendeu a esperança no setor agroexportador brasileiro. Nesse sentido, Howard Lutnick afirmou que produtos não cultivados nos EUA, como café e manga, poderão ser isentos da nova taxação.
Sendo assim, a fala, feita nesta terça-feira (29) à CNBC Internacional, surge como possível brecha nas duras sanções comerciais programadas para 1º de agosto. Desse modo, embora o secretário não tenha citado diretamente o Brasil, analistas interpretaram o recado como oportunidade estratégica para aliviar tarifas de itens-chave do agronegócio nacional.
Manga, café e açaí: os campeões de exportação ameaçados
Entre os produtos que mais dependem do mercado americano, a manga lidera com folga. Em 2024, o Brasil exportou 36 mil toneladas da fruta para os EUA, com receita de US$ 45,8 milhões, o equivalente a 14% das exportações totais do setor. Já o café responde por cerca de 30% da fatia brasileira no mercado americano, enquanto o suco de laranja representa 42% das vendas.
Além da manga, a lista de produtos de alta dependência inclui uva e frutas processadas, como o açaí, que juntos representam 90% das exportações nacionais para os EUA, segundo dados da Abrafrutas. Diante disso, uma eventual tarifa de 50% poderia comprometer o fôlego de um setor que vinha ganhando espaço no exterior.
Apesar do cenário tenso, as exportações brasileiras de frutas totalizaram US$ 148 milhões no último ano. Portanto, para 2025, analistas projetam o envio de 48 mil toneladas de manga aos Estados Unidos, reforçando o impacto potencial de qualquer nova barreira comercial.
Lobby político tenta salvar principais produtos
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) enviou uma comitiva aos Estados Unidos para negociar diretamente com representantes do governo Trump. Na segunda-feira (28), a senadora Tereza Cristina (PP), acompanhada de outros parlamentares, participou de reuniões em Washington para tentar garantir exceções específicas à nova taxação.
Ademais, as lideranças políticas brasileiras concentraram seus pedidos em três frentes principais: café, suco de laranja e manga. Segundo relatos de bastidores, o setor empresarial americano demonstrou receptividade, o que pode influenciar nas decisões finais da Casa Branca.
Ainda assim, a percepção entre os membros da missão brasileira é de que Trump não deve suspender totalmente as tarifas. Desse modo, a estratégia passou a ser a defesa de isenções pontuais, produto a produto, aproveitando a brecha aberta pelo próprio secretário de Comércio.
Tarifa zero: estratégia ou concessão estratégica?
A fala de Howard Lutnick pode representar não apenas uma abertura comercial, mas uma jogada política. Ao sinalizar tarifa zero para produtos não cultivados nos EUA, o governo americano pode tentar suavizar críticas internas ao tarifaço, sem abrir mão da retórica protecionista.
Além disso, essa possível exceção também atende a interesses dos próprios consumidores e empresários americanos, que dependem desses produtos importados. No caso do café e das frutas tropicais, como manga e açaí, não há alternativas locais de produção em escala comercial.
O Brasil, por sua vez, enxerga na brecha uma oportunidade de manter mercados estratégicos. Por fim, se confirmarem o alívio tarifário, mesmo que parcial, os setores sob ameaça imediata poderão respirar com mais tranquilidade e planejar exportações para o segundo semestre com menos incerteza.