
- Com 82,4% dos créditos votantes favoráveis, a AgroGalaxy garantiu a aprovação do plano de recuperação judicial após mais de 12 horas de negociações
- Maior credor individual, o BB recusou converter créditos em ações e optou por receber o valor devido por meio de debêntures de longo prazo
- A empresa criou condições especiais para credores que mantiveram entregas e incluiu uma nova modalidade de pagamento em dólar para atender fornecedores internacionais
Após mais de 12 horas de intensas negociações, a AgroGalaxy (AGXY3) conquistou, na madrugada desta quinta-feira (10), a aprovação do seu plano de recuperação judicial com o apoio de 82,4% dos créditos votantes.
A assembleia geral de credores, marcada por debates técnicos e concessões de última hora, representou um marco crucial na tentativa da companhia de reestruturar suas finanças e preservar sua operação no agronegócio brasileiro.
O CEO da AgroGalaxy, Eron Martins, afirmou que o processo de construção do acordo foi baseado no diálogo contínuo com credores, sobretudo fornecedores.
“Sempre buscamos escutar o fornecedor e entender quais adaptações eram possíveis sem comprometer o plano”, disse Martins, durante entrevista coletiva.
A proposta, que agora segue para homologação judicial pela 19ª Vara Cível e Ambiental de Goiânia, incluiu mudanças estratégicas ao longo da assembleia para garantir maior adesão dos credores, entre eles o Banco do Brasil (BB), maior credor individual da empresa, com R$ 391 milhões a receber.
Banco do Brasil rejeita adiamento
O Banco do Brasil protagonizou uma das discussões mais relevantes da assembleia. O banco solicitou o adiamento da votação por 30 dias, alegando que precisava de mais tempo para analisar as alterações feitas ao plano no início do mês. No entanto, a maioria dos presentes votou contra o adiamento: 1.136 votos foram contrários, 79 a favor e 23 se abstiveram.
Com a negativa, o banco decidiu não aderir à proposta de conversão de créditos em ações da companhia. Em vez disso, optou por receber o pagamento por meio de debêntures tradicionais de longo prazo. A decisão garantiu a permanência do BB no plano, mas sem exposição à estrutura acionária da empresa.
AgroGalaxy inclui pagamento em dólar
Outro ponto relevante da negociação foi a inclusão de uma nova modalidade de pagamento em dólar, com limite de até US$ 45 milhões. A medida atendeu especialmente às exigências de multinacionais que fornecem insumos à AgroGalaxy e que precisam de contratos indexados à moeda estrangeira.
Segundo o advogado da empresa, Gustavo Salgueiro, essa mudança só foi possível porque parte das receitas da AgroGalaxy já é dolarizada. Isso cria um “hedge natural”, compensando receitas e despesas em dólar e evitando perdas com oscilações cambiais. A novidade reforça a estratégia da companhia de manter parcerias internacionais essenciais.
Fornecedores parceiros terão condições especiais
A assembleia também aprovou a criação de uma categoria diferenciada para os chamados “credores parceiros”. A AgroGalaxy ofereceu, no entanto, a esses credores condições mais vantajosas: pagamento integral sem desconto, dois anos de carência e prazo de dez anos para quitação.
O reconhecimento formal desse grupo no texto final do plano reflete o esforço da empresa em preservar laços estratégicos e manter a credibilidade no mercado.
Representantes do Santander e da trading Louis Dreyfus Company (LDC) também participaram da reunião, solicitando esclarecimentos sobre a venda de uma carteira de dívidas vencidas estruturada como Unidade Produtiva Isolada (UPI). As respostas foram documentadas nos anexos do plano final.
Agora, com a aprovação consolidada, a AgroGalaxy aguarda a homologação judicial e concentra esforços na consolidação dos dados da dívida ajustada, com base nas opções de pagamento escolhidas por cada credor.
A decisão da Justiça é esperada nas próximas semanas, contudo, marcando o início de uma nova fase na trajetória da empresa no setor agrícola.