
- Captação líquida da previdência privada desaba 66% no início de 2025, totalizando apenas R$ 7,1 bilhões.
- Nova cobrança de IOF sobre aportes em VGBL e cenário macroeconômico instável travam o crescimento do setor.
- Especialistas alertam: medida atinge classe média e compromete planejamento de longo prazo dos brasileiros.
Depois de um ano de otimismo e forte crescimento, a previdência privada entrou em crise em 2025. Assim, o setor registrou queda de 66,4% na captação líquida no primeiro quadrimestre. O motivo? Uma nova cobrança de IOF imposta pelo governo federal, somada à instabilidade macroeconômica que afastou os investidores.
Explosão em 2024 virou retração em 2025
O ano de 2024 foi extremamente positivo para a previdência privada aberta. Sendo assim, a captação líquida atingiu R$ 60,8 bilhões, resultado de aportes brutos de R$ 196 bilhões e resgates em torno de R$ 135 bilhões. O setor cresceu 41,2% em relação ao ano anterior, impulsionado pelo otimismo do mercado.
Contudo, o cenário mudou drasticamente nos primeiros quatro meses de 2025. Isso porque a captação líquida caiu para apenas R$ 7,1 bilhões, enquanto os aportes recuaram para R$ 58,8 bilhões. Logo, ao mesmo tempo, os resgates aumentaram 20,7%, somando R$ 51,7 bilhões. Esse movimento causou uma redução brusca no saldo positivo dos investimentos.
Desse modo, a queda de 66% representa uma reversão brusca da tendência. Parte do mercado já previa uma desaceleração, mas não em níveis tão expressivos. Portanto, o principal motivo apontado por especialistas foi a nova tributação sobre aportes em planos VGBL.
IOF trava os aportes e gera desconfiança
O Decreto nº 12.466/25, publicado em maio, determinou cobrança de 5% de IOF sobre contribuições acima de R$ 50 mil mensais em planos VGBL. A medida gerou insegurança jurídica e travou os novos investimentos.
Ademais, após pressão das entidades do setor, como CNseg e FenaPrevi, o governo recuou parcialmente. Um novo decreto, nº 12.499/25, estabeleceu um limite anual de R$ 300 mil para isenção em 2025, subindo para R$ 600 mil a partir de 2026. Mesmo com a mudança, a confiança do mercado não foi restaurada.
Segundo estimativas da FenaPrevi, a arrecadação pode cair R$ 50 bilhões por ano, somando perdas de até R$ 500 bilhões na próxima década. O setor teme uma estagnação se a regra não for revista pelo Congresso.
Impacto na classe média e na educação financeira
Para o presidente da FenaPrevi, Edson Franco, o VGBL é o único produto acessível à população ativa com foco no longo prazo. Assim, a nova taxação atinge diretamente a classe média, que usa o plano para a aposentadoria.
Além disso, o setor enfrentava dificuldades prévias. A educação previdenciária ainda é incipiente no Brasil. Poucos sabem definir uma meta de renda para o futuro. Para piorar, a cultura de investir visando o longo prazo ainda não se consolidou, o que reduz a adesão aos planos. Sendo assim, falta clareza sobre como a previdência se converte em renda futura.
A especialista Francisca Brasileiro, da TAG, destaca que muitas pessoas acreditam que imóveis serão suficientes para garantir renda na velhice. Essa percepção, embora comum, desconsidera riscos como liquidez e custos adicionais. A previdência, quando bem estruturada, é mais eficaz e segura.
Indústria resiste, mas cobra estabilidade
Mesmo com os desafios, o setor ainda mantém algum otimismo. Então, executivos como Marcelo Mello, da SulAmérica, acreditam que com uma taxa de juros mais baixa, o interesse por previdência voltará a crescer. No entanto, o atual patamar de juros incentiva investimentos de curto prazo.
Além disso, Valeska Oliveira, do Sicoob, aposta em simuladores de renda para engajar cooperados. Já Carlos Eichhorn, da Mapfre, reforça o papel dos corretores como educadores financeiros. A orientação correta pode evitar decisões prejudiciais em momentos de incerteza.
Enquanto isso, o Congresso se mobiliza para votar o PLD 314/25, que pode derrubar a taxação. Desse modo, o futuro da previdência privada dependerá diretamente do desfecho dessa votação. Até lá, o mercado segue cauteloso e em compasso de espera.