Alerta energético

Apagão esteve perto de paralisar o Brasil e especialistas fazem alerta urgente

Excesso de energia solar e leilões travados expõem fragilidade do sistema; ONS alerta que modelo atual pode colocar o Brasil em risco.

Crédito: Depositphotos.
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  • No Dia dos Pais, geração solar chegou a 37,6% da demanda e quase colapsou o sistema
  • ONS reduziu usinas e ficou com apenas 2 GW de margem de segurança
  • Leilões travados e falta de regulação expõem risco crescente ao país

O sistema elétrico brasileiro esteve a poucos passos de um colapso no Dia dos Pais, em agosto. Em meio a excesso de geração solar e falhas no planejamento, o Operador Nacional do Sistema (ONS) precisou tomar medidas emergenciais para evitar que o país ficasse às escuras.

O episódio expôs fragilidades sérias e trouxe à tona uma dura realidade: a rede elétrica nacional está cada vez mais vulnerável. Analistas alertam que, sem mudanças rápidas, o risco de apagões vai se tornar parte do cotidiano do brasileiro.

O dia em que o sistema quase travou

No domingo do Dia dos Pais, entre 13h e 13h30, o setor elétrico chegou ao limite. Documentos internos do ONS mostram que a geração distribuída, painéis solares instalados em casas, comércios e fazendas, representou 37,6% de toda a energia consumida no país. O consumo baixo, típico de um feriado familiar, agravou o quadro.

Assim, com tanto excedente vindo de telhados, o ONS reduziu drasticamente a produção de hidrelétricas e termelétricas. Além disso, ordenou o corte de 98,5% da capacidade de geração eólica e solar centralizada, paralisando quase totalmente as usinas.

Desse modo, restaram apenas 2 gigawatts de energia “flexível” para controle do operador. Se esse limite fosse ultrapassado, o país poderia enfrentar restrições técnicas graves, como operar usinas em condições inseguras ou até violar limites de linhas de transmissão.

A fragilidade do modelo atual

O ONS ressaltou que precisa manter um número mínimo de usinas em operação para garantir inércia e potência reativa, condições indispensáveis para a segurança da rede. No entanto, sistemas descentralizados como os painéis solares residenciais escapam desse controle.

Ademais, essa falta de coordenação cria riscos crescentes. O excesso de geração durante o dia obriga desligamentos forçados de fontes firmes, mas, quando o sol se põe e o consumo dispara, religar as hidrelétricas leva tempo demais. Esse descompasso aumenta o risco de blecautes.

Engenheiros afirmam que o problema é um efeito colateral dos fortes incentivos à energia solar. Portanto, embora positivos para a transição energética, os estímulos não vieram acompanhados de ajustes no planejamento da rede, deixando o sistema mais instável.

Governo parado e leilões travados

Outro ponto que preocupa é a falta de leilões de energia. Sem essas contratações regulares, que garantem fornecimento firme ao sistema, o risco de déficit cresce a cada ano. O próprio ONS alerta que é urgente avançar em uma agenda de segurança energética.

Além disso, a ausência de medidas estruturais abre espaço para cenários críticos tanto em momentos de baixa demanda quanto em picos de consumo. Em ambos os casos, a rede elétrica brasileira fica pressionada ao limite, sem uma rede de proteção adequada.

Por fim, especialistas defendem a inserção de novas tecnologias, como baterias de grande porte, além de ajustes regulatórios que permitam coordenar melhor a energia descentralizada. Para eles, apenas assim será possível garantir estabilidade na transição energética.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.