
- Sociedades de crédito e clubes de benefícios repetem esquema de descontos sem autorização, agora via conta bancária do aposentado.
- Projeto de lei tenta proibir intermediação do INSS em cobranças, mas ainda há brechas nos bancos que permitem fraudes.
- Empresas como Aspecir e Pserv lideram ações judiciais por cobrança indevida, especialmente contra idosos vulneráveis.
Aposentados do INSS enfrentam um novo tipo de desconto irregular. Assim que o benefício é depositado, empresas debitam valores diretamente das contas bancárias, sem qualquer autorização. A cobrança, quase sempre em torno de R$ 70, passa despercebida por muitos, mas impacta fortemente o orçamento de quem depende da aposentadoria.
Sociedades de crédito, clubes de benefícios e intermediários financeiros se aproveitam da fragilidade do sistema bancário para agir. Ao contrário das associações, que descontavam diretamente do INSS, essas empresas retiram o dinheiro por convênios ou permissões implícitas, usando brechas para enganar os clientes mais vulneráveis.
Bancos reproduzem omissão já vista no INSS
Nos últimos anos, associações usaram a folha de pagamento do INSS para aplicar descontos indevidos. Agora, o cenário se repete nos bancos. A diferença é que as instituições financeiras permitem que empresas parceiras façam os débitos sem garantir o consentimento do aposentado.
Muitos idosos relatam nunca ter solicitado os serviços cobrados. Ainda assim, os bancos executam os lançamentos automaticamente. Essa operação silenciosa permite que os valores sejam retirados todos os meses, com dificuldade quase nula para quem executa e grande barreira para quem tenta se defender.
Enquanto o INSS se omitia em fiscalizar os convênios antigos, os bancos hoje adotam comportamento semelhante. O resultado é o mesmo: aposentados perdem parte de sua renda sem saber exatamente o motivo.
Congresso tenta reagir, mas brechas continuam
Para enfrentar esse problema, o Congresso analisa o Projeto de Lei nº 1.846/2025, do deputado Sidney Leite (PSD-AM). A proposta busca impedir que o INSS continue intermediando descontos de mensalidades associativas e de outras entidades ligadas a aposentados.
Embora a proposta seja importante, não atinge o novo tipo de golpe. Como as retiradas agora acontecem nos bancos, a brecha segue ativa. Assim, mesmo que o projeto avance, os idosos continuarão expostos às armadilhas criadas por empresas que se valem de convênios e estratégias obscuras.
Desse modo, casos envolvendo empréstimos não solicitados, seguros indesejados e mensalidades de clubes de vantagens aparecem com frequência nos registros da Justiça e em plataformas de defesa do consumidor. Apesar disso, o ritmo das fraudes não diminui.
Aspecir e Pserv lideram ações por cobranças ilegais
Duas empresas concentram milhares de processos por descontos indevidos em aposentados. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, a Aspecir Previdência acumula mais de 14 mil ações. Já a Paulista Serviços (Pserv) responde a mais de 15 mil casos semelhantes.
A Aspecir oferece seguros, assistência funeral, convênios farmacêuticos, serviços pet e residenciais. A Pserv intermedeia cobranças de outras empresas. Embora os pacotes não sejam ilegais, o problema surge quando a cobrança ocorre sem anuência ou sem que o cliente saiba que aderiu ao serviço.
Ambas negam publicamente qualquer irregularidade. No entanto, aposentados seguem relatando cobranças não autorizadas, dificuldade para cancelamento e obstáculos para reaver os valores perdidos. A maioria dessas vítimas é formada por idosos em situação de vulnerabilidade social ou cognitiva.
Aposentados seguem como principais alvos de fraudes
Idosos costumam viver com pouca renda, muitas vezes em isolamento, e com dificuldades para entender operações bancárias digitais. Essa realidade os torna alvos ideais para empresas que lucram com consentimentos supostamente dados por telefone, links ou papéis confusos.
Além da perda financeira, essas práticas violam direitos fundamentais dos idosos, como o de decidir sobre o próprio dinheiro. Mesmo com a existência do Estatuto do Idoso, faltam ações concretas dos bancos e do Estado para garantir essa proteção.
Especialistas recomendam que aposentados ou seus familiares monitorem extratos, desconfiem de valores fixos não reconhecidos e denunciem rapidamente ao Procon, Defensoria Pública ou Justiça. Portanto, quanto mais cedo o problema for identificado, maior a chance de reverter o dano.