
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disparou duas mensagens nas redes sociais desde o último domingo (6), que causaram furor em círculos diplomáticos e políticos entre o país e o Brasil — e, de forma inesperada, podem até fortalecer a popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2026.
Na primeira postagem, Trump saiu em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmando que ele “não é culpado de nada, exceto de ter lutado pelo povo”.
Em tom provocativo, atacou o Judiciário brasileiro de forma indireta: “O único julgamento que deveria estar havendo é o julgamento pelo voto do povo brasileiro. Deixem Bolsonaro em paz.”
Na segunda publicação, o republicano voltou a mirar o Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e lançou uma ameaça nada velada: “A qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics será cobrada uma tarifa adicional de 10% [aplicada às exportações para os EUA]. Não haverá exceções a esta política.”
Apesar do tom agressivo, diplomatas do Itamaraty classificam o movimento como mais uma amostra do histrionismo característico de Trump, reforçado durante sua gestão nos EUA.
Eles lembram que, em outubro do ano passado, o presidente norte-americano chegou a propor um aumento de 100% nas tarifas contra os países que buscassem substituir o dólar no comércio internacional — proposta tão surreal que foi engavetada até agora, quando ressurgiu em versão “light”.
Coincidência ou não, as declarações vieram no mesmo fim de semana em que Lula sediou, no Rio de Janeiro, uma cúpula do Brics ampliado. O presidente brasileiro voltou a defender ideias como a substituição do dólar como moeda global, a reforma do Conselho de Segurança da ONU e o fim da fome no mundo — bandeiras consideradas idealistas, mas que ganham peso político no cenário internacional.
Como isso pode fortalecer Lula
Curiosamente, assessores do governo acreditam que a retórica de Trump pode jogar a favor de Lula. Com sua popularidade em queda e buscando pavimentar o caminho para uma eventual reeleição, o presidente brasileiro pode capitalizar a figura de um “adversário externo” poderoso — e impopular entre certos setores.
Para o jornalista da revista Veja, José Casado, “Trump defender Bolsonaro e ameaçar o Brasil é o melhor presente que Lula poderia ganhar no momento”.
Há precedentes internacionais para esse chamado “efeito Trump”:
- No México, a repressão violenta do republicano contra imigrantes fortaleceu o sentimento nacionalista e impulsionou a popularidade da presidente Claudia Sheinbaum.
- No Canadá, Trump chegou a sugerir que o país fosse anexado aos EUA. Resultado? Os liberais, que estavam em queda, acabaram permanecendo no poder graças à rejeição massiva à ideia.
Com informações do José Casado, da Veja.