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"Banho de sangue": Bitcoin despenca 6,6% e ameaça US$ 77 mil com pânico pós-tarifas de Trump

Bitcoin lidera "banho de sangue" com queda de 6,6%, negociado abaixo de US$ 78 mil. Medo global com tarifas de Trump e retaliações da China afundam mercados. Analistas alertam para mais quedas, e memecoins derretem junto.

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"Banho de sangue": Bitcoin despenca 6,6% e ameaça US$ 77 mil com pânico pós-tarifas de Trump

A semana começou com um verdadeiro “banho de sangue” para o mercado de criptomoedas. Nesta segunda-feira, 7, o Bitcoin (BTC) e as principais moedas digitais operam fortemente “no vermelho”, refletindo o tombo generalizado dos mercados financeiros globais. O principal catalisador para esse pânico é o cenário macroeconômico cada vez mais complicado nos Estados Unidos, agravado pelas recentes tarifas de importação anunciadas pelo presidente Donald Trump e as retaliações que já começaram a surgir.

Enquanto países como a China já anunciam medidas recíprocas às tarifas impostas por Trump no que ele chamou de “Liberation Day”, os investimentos em geral, incluindo ações e outros ativos de risco, amargam quedas significativas. As criptomoedas, por operarem 24 horas por dia, sete dias por semana, muitas vezes servem como um termômetro antecipado desses movimentos de aversão ao risco, e o sinal desta vez foi claramente negativo.

No momento da redação, o Bitcoin era cotado a US$ 77.229, registrando uma queda expressiva de 6,6% nas últimas 24 horas, de acordo com dados do CoinMarketCap. O cenário foi ainda pior em alguns momentos, com a maior criptomoeda do mundo chegando a despencar para US$ 74.436 durante esse período, acendendo um forte alerta entre investidores.

“O mercado cripto enfrentou um dos finais de semana mais desafiadores de sua história recente“, avaliou João Galhardo, analista de research da Mynt, a plataforma de criptoativos do banco BTG Pactual. Ele explicou que a queda não está primariamente ligada a fatores internos do universo cripto.

“Esse movimento está ligado […] à forte correlação com os mercados financeiros tradicionais norte-americanos, que se encontram em estado de grande aversão ao risco diante da nova agenda tarifária implementada pelo presidente Donald Trump”, disse o analista em entrevista à EXAME.

Do ponto de vista da análise técnica, que estuda os gráficos de preço em busca de padrões, a recomendação é de cautela por parte dos investidores. Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da exchange Ripio, observou um detalhe interessante:

“Embora no curto prazo tenha entrado um alto volume financeiro durante a queda, sugerindo possível absorção por parte dos compradores, é importante analisar o gráfico diário, o qual mostra que ainda há espaço para mais quedas para o preço do ativo”.

Segundo Mattos, se a pressão vendedora continuar, o Bitcoin poderá buscar a faixa dos US$ 69.000 como um suporte importante de longo prazo. No entanto, ela também oferece uma perspectiva para quem pensa mais à frente:

“Vale ressaltar que, diante dessa queda de -15% [acumulada recentemente], o preço do bitcoin torna-se atrativo para realizar compras fracionadas pensando no longo prazo“.

Caso a força compradora consiga absorver a queda atual, os próximos níveis de resistência (onde o preço pode encontrar dificuldade para subir) estão nas faixas de US$ 79.100 e US$ 82.300.

Impactos Reais do “Tarifaço de Trump”

Beto Fernandes, analista da Foxbit, aprofunda a análise sobre o impacto das tarifas. Para ele, “mais importante do que o tarifaço do Trump, o mercado precisava ficar de olho na repercussão desta ação pelos outros países“. E essa repercussão veio rápida e forte. “Por isso, esse sell-off [venda massiva] acompanha não só o temor por uma estagflação nos Estados Unidos [combinação perversa de economia parada com inflação alta], como também um aumento da inflação global“.

A China, como esperado, já anunciou uma retaliação pesada: 34% sobre a importação de produtos norte-americanos, em resposta direta às taxas impostas por Trump (que se somam a tarifas anteriores). Além disso, Pequim adicionou 11 empresas americanas à sua lista de “entidades não confiáveis”.

“Agora, os investidores temem que a União Europeia possa seguir o mesmo caminho. Isso coloca o tarifaço em uma bola de neve que tende a crescer de forma rápida e intensa, espalhando o medo em todos os mercados”, alertou Fernandes.

Ele acrescenta que há um risco real de o tiro sair pela culatra para os EUA. “O problema é que esse tarifaço pode não trazer os efeitos necessários para uma possível reindustrialização do país. Ao contrário, isso pode criar o efeito de estagflação, […] enquanto os países mais afetados pelas tarifas buscam outros parceiros comerciais”. O mercado parece já sentir esse perigo:

“Tanto que houve um aumento significativo das apostas para um corte de juros emergencial nos Estados Unidos para a reunião do mês que vem [do Federal Reserve, o banco central americano]. Mesmo que isso possa potencializar a inflação, a redução dos juros pode favorecer uma certa dose de investimento, evitando uma recessão”, concluiu Fernandes.

Desde o início do novo governo Trump e a intensificação das medidas protecionistas, o otimismo inicial que alguns investidores de cripto tinham se dissipou rapidamente. Dados da Foxbit apontam que, desde o início do governo até esta segunda-feira, o Bitcoin perdeu impressionantes US$ 690 bilhões em valor de mercado, uma depreciação de 31,82%. Isso reflete o estresse contínuo causado pela guerra comercial iminente.

Memecoins Desabam na Esteira do Pânico

Como costuma acontecer em momentos de forte aversão ao risco, as memecoins foram atingidas de forma ainda mais brutal. Esses tokens, muitas vezes impulsionados mais por memes e euforia de comunidades online do que por fundamentos sólidos, são geralmente os primeiros a serem vendidos quando o medo toma conta.

Dogecoin (DOGE) caiu 16,2%, sendo negociada a US$ 0,1377. Sua rival Shiba Inu (SHIB) recuou 10%, valendo US$ 0,00001077. Outras memecoins populares como Pepe coin (PEPE) e Bonk (BONK) registraram quedas de 13,9% e 13,8%, respectivamente. Nem mesmo a memecoin “oficial” do presidente, a Official Trump ($TRUMP), escapou, caindo 16% e sendo negociada a US$ 7,60, aprofundando as perdas já vistas na semana anterior.

O valor total do mercado de memecoins encolheu 17% durante a madrugada, caindo para US$ 41,7 bilhões. Enquanto isso, as liquidações (quando posições de investidores alavancados são fechadas à força por falta de margem) no mercado cripto como um todo dispararam, alcançando US$ 1,4 bilhão nas últimas 24 horas, sendo mais de US$ 460 milhões apenas em operações com Bitcoin, segundo dados da CoinGlass.

Olho no CPI e nos Próximos Passos

Para os próximos dias, a tensão deve continuar. João Galhardo (Mynt/BTG) destaca que o ponto central da semana será a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos EUA, na quinta-feira, 10. “Dados acima do esperado poderiam intensificar ainda mais as tensões, especialmente diante da potencial necessidade de cortes de juros mais cedo do que o esperado”, afirma.

As apostas do mercado já refletem essa ansiedade: a probabilidade de um corte de juros já na próxima reunião do FOMC (comitê de política monetária do Fed) em 7 de maio saltou para 50%, um aumento expressivo em relação aos 14% registrados na semana anterior, segundo dados da CME.

“Dessa forma, os próximos dias serão cruciais para determinar a direção de curto prazo tanto dos mercados tradicionais quanto do universo cripto, com investidores atentos não apenas aos fundamentos internos, mas principalmente às sinalizações políticas e econômicas globais”, conclui Galhardo. A volatilidade, ao que tudo indica, veio para ficar por um tempo.

Fernando Américo
Fernando Américo
Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvol