As “stablecoins” são criptomoedas referenciadas em moedas tradicionais, como o dólar, na proporção de um para um. Roberto Medeiros, diretor da área internacional e câmbio no Bradesco, explicou como a operação funcionará: o exportador vende a mercadoria no exterior e o importador paga a Parfin com stablecoins. Em seguida, a Parfin envia uma quantidade de dólares equivalente ao valor recebido em stablecoin para o Bradesco, que converte o montante em reais para a exportadora no Brasil. “O grande ganho que imaginamos com a stablecoin é operacional. Ela traz uma eficiência maior e esperamos um custo melhor para todo mundo”, afirma Medeiros.
Demanda do Cliente e Contexto Regulatória
Medeiros destaca que essa nova solução foi criada em resposta à demanda dos clientes que buscam operar com moedas digitais por serem mais baratas e eficientes que os métodos tradicionais de pagamento.
“Iniciamos a iniciativa devido à situação de alguns exportadores na Bolívia, onde o uso de stablecoins é regulamentado, facilitando as operações dos exportadores que estavam enfrentando atrasos no recebimento de pagamentos”, explica.
O avanço promovido pela tecnologia blockchain, em termos de desintermediação, programabilidade e eficiência, é visto como irreversível por Medeiros, que acredita que os grandes bancos não podem mais ignorar esse caminho. A publicação de uma consulta pública pelo Banco Central (BC), regulamentando operações com criptomoedas no mercado de câmbio, foi um fator crucial para o desenvolvimento da ferramenta. “O Bradesco sempre quis ser pioneiro em tecnologia, e ao perceber as conexões se formando com o BC regulando e clientes demandando, achamos que era o momento ideal”, comenta.
Críticas à Regulamentação do BC
Apesar de sua importância, a consulta pública gerou controvérsia entre as empresas de criptoativos, com críticas focadas em dois pontos principais: a limitação de pagamentos ou transferências internacionais a ativos virtuais no valor de US$ 500 mil e a proibição do saque de stablecoins para carteiras autocustodiadas.
Medeiros acredita que o limite de US$ 500 mil para instituições sistemicamente importantes, como os grandes bancos, não deve ser mantido no texto definitivo da regulamentação. Em relação à proibição do saque de stablecoins, ele argumenta que isso não afeta o Bradesco, uma vez que as transações projetadas são apenas entre empresas, e não pessoas físicas. Isso ajuda a mitigar preocupações regulatórias, uma vez que as operações de exportação serão realizadas com clientes que atendem aos critérios de prevenção à lavagem de dinheiro (PLD) e de conhecer seu cliente (KYC).
Início das Operações
As primeiras transações de comércio exterior via stablecoins no Bradesco estão previstas para ocorrer em janeiro, com quatro clientes já confirmados e outros dois avaliando a possibilidade de utilizar o novo sistema financeiro. O BC será informado sobre o uso de stablecoins em cada transação, garantindo transparência e conformidade regulatória.