
- Trump impôs tarifa de 50% ao Brasil, a mais alta entre todos os países atingidos.
- Medida teria motivação política: represália ao tratamento dado por Lula a Bolsonaro.
- Outros países, como Vietnã e Tailândia, conseguiram negociar redução nas alíquotas.
O Brasil se tornou o principal alvo da nova ofensiva comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O republicano assinou um decreto que impõe tarifa de 50% sobre parte das exportações brasileiras, valor mais alto entre os 69 países atingidos.
A decisão, que passa a valer em 7 de agosto, marca uma escalada inédita na relação bilateral e foi interpretada como um gesto de retaliação política ao governo Lula, especialmente pela forma como o ex-presidente Jair Bolsonaro tem sido tratado no país.
Isolado e no topo da lista de tarifas
Entre todos os países incluídos no decreto, o Brasil recebeu a alíquota mais severa. Segundo o documento divulgado pela Casa Branca, as tarifas impostas variam entre 10% e 41%. Síria, Suíça, Iraque e África do Sul, por exemplo, ficaram com taxas inferiores à brasileira.
O decreto também definiu 694 exceções. Produtos como aviões da Embraer e suco de laranja foram poupados da tarifa máxima e seguirão com a alíquota básica de 10%, estabelecida desde abril. Ainda assim, a exclusão não reduz o impacto do gesto diplomático.
A equipe anunciou a decisão logo após Trump reforçar seu apoio a Bolsonaro. Em carta enviada a Lula no início de julho, o presidente americano manifestou “profundo respeito” pelo ex-mandatário brasileiro. Desde então, os analistas políticos esperavam uma resposta firme do republicano.
Rivalidade política pesa mais que o comércio
O argumento oficial do decreto se baseia no princípio de tarifas recíprocas. Segundo a Casa Branca, os EUA decidiram ajustar suas alíquotas conforme as barreiras impostas por seus parceiros comerciais. No entanto, interlocutores próximos à administração americana admitem outro fator.
Para fontes diplomáticas, o caso brasileiro se destaca pelo viés político-ideológico. A proximidade entre Trump e Bolsonaro, aliada às críticas constantes do Planalto ao ex-presidente, teria elevado a temperatura do diálogo entre os países.
Trump também tem usado tarifas como instrumento eleitoral. Ao atingir o Brasil com a maior penalização, ele sinaliza força a sua base conservadora. A medida foi lida por especialistas como um recado ao governo Lula e um alerta para aliados da esquerda na América Latina.
Outros países conseguiram alívio
Ao contrário do Brasil, diversas nações conseguiram negociar reduções tarifárias. O Vietnã teve sua taxa reduzida de 46% para 20%, enquanto a Tailândia caiu de 36% para 19%. Países da União Europeia, Reino Unido, Japão e Coreia do Sul foram poupados de sanções mais duras.
Até mesmo a China, com quem os EUA mantêm longa disputa comercial, garantiu prorrogação de uma trégua iniciada em maio. O atual acordo mantém tarifas em 30% para produtos chineses e 10% para exportações americanas, com expectativa de avanço em negociações bilaterais.
Já o Canadá enfrentou aumento de 25% para 35% nas tarifas, mas ainda assim ficou abaixo do patamar brasileiro. A Casa Branca justificou a decisão por razões de segurança e por desentendimentos diplomáticos recentes, como o apoio canadense ao Estado Palestino.
Brasil perdeu espaço nas negociações
O fato de o Brasil não ter conseguido suavizar sua posição levanta questionamentos sobre a eficácia da diplomacia atual. Apesar das relações comerciais bilaterais, Brasília não obteve sinalizações públicas de abertura para renegociação das tarifas impostas.
Com essa nova medida, o Brasil passa a enfrentar desvantagens competitivas importantes em relação a concorrentes globais. As tarifas afetam cadeias produtivas relevantes, e podem impactar exportadores de médio porte que não se beneficiam das exceções listadas.
Nos bastidores, interlocutores do Itamaraty indicam preocupação com o isolamento crescente do país. Além disso, o Palácio do Planalto ainda avalia quais estratégias poderá adotar para tentar reverter a decisão ou, ao menos, minimizar seus efeitos econômicos.