
- Tarifa de 50% pode tornar vendas aos EUA inviáveis, segundo a Abiec
- Preço da carne brasileira deve subir até 50% para exportar aos americanos
- Governo Lula discute reação e Frente Parlamentar cobra diplomacia firme
A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciada por Donald Trump, acendeu o sinal vermelho no agronegócio. Nesse sentido, para representantes do setor de carne bovina, o aumento anunciado na última quarta-feira (9) torna inviável a exportação para os norte-americanos, atualmente o segundo principal destino da proteína brasileira.
“O clima é de caos”, resumiu um dirigente de entidade ligada aos frigoríficos. Assim, a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) calcula que o custo da carne enviada aos EUA saltaria de US$ 5.732 para cerca de US$ 8.600 por tonelada, inviabilizando a concorrência com os produtores locais e outras origens.
Exportações em risco real
Nos seis primeiros meses de 2025, o Brasil enviou 181.477 toneladas de carne bovina aos EUA, um avanço expressivo de 112% sobre o mesmo período do ano passado. Sendo assim, a receita obtida chegou a US$ 1,04 bilhão — 102% acima do registrado em 2024. Logo, os Estados Unidos foram responsáveis por cerca de 14% do total exportado neste ano, consolidando-se como um dos mercados mais relevantes para os frigoríficos brasileiros.
Além disso, com a tarifa de 50%, o valor adicional por tonelada exportada seria de US$ 2.866, segundo estimativas do setor. Nesse cenário, o Brasil perderia competitividade em relação a outros países exportadores, comprometendo contratos e planejamentos feitos ao longo do ano.
Desse modo, a Abiec se manifestou oficialmente e demonstrou preocupação com a medida. “Qualquer aumento de tarifa representa um entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo”, declarou em nota. Por fim, a associação também alertou para o risco de a decisão comprometer a segurança alimentar global.
Reação política imediata
O governo Lula convocou uma reunião emergencial logo após o anúncio das tarifas. Participaram os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e o vice-presidente Geraldo Alckmin. O Palácio do Planalto avalia medidas legais e diplomáticas para tentar reverter a decisão, que surpreendeu pela magnitude da alíquota e pelo tom político da justificativa.
Ademais, Trump alegou que a sobretaxa é uma resposta ao tratamento que o Brasil vem dando ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a empresas americanas de tecnologia. O país sul-americano foi o único entre os 22 alvos de sanções comerciais a receber a tarifa máxima de 50%.
Na visão de interlocutores do governo, a decisão do republicano é uma tentativa de interferir diretamente na eleição brasileira de 2026. Em suma, além de abalar o comércio, pode comprometer acordos multilaterais e trazer prejuízos diplomáticos duradouros.
Impactos e caminhos possíveis
Caso a medida não seja revertida, exportadores brasileiros já avaliam redirecionar parte dos embarques para mercados como China, Hong Kong, Egito e Emirados Árabes. Porém, esse redirecionamento pode causar represamento interno de carne bovina, pressionando os preços para baixo no Brasil — o que afeta produtores e distribuidoras locais.
Além disso, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também se pronunciou, classificando a medida como “um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas”. Para a bancada ruralista, é necessário agir com “cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações”.
Apesar do tom de urgência, lideranças do setor ainda apostam em soluções diplomáticas. Portanto, a expectativa é de que o Brasil busque apoio em fóruns internacionais e pressione pela revisão da tarifa ou pela concessão de exceções para produtos sensíveis.