
- Baixa taxa de poupança: Brasil atinge 14,5% do PIB em 2024, o menor nível desde 2019
- Impacto do consumo: Inflação e estímulos ao consumo dificultam a criação de reservas financeiras
- Dependência externa: País continua a “importar poupança” para compensar déficit público
A taxa de poupança no Brasil caiu pelo terceiro ano consecutivo e atingiu 14,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, menor nível desde 2019. A redução reflete a falta de controle dos gastos públicos, enquanto as famílias brasileiras, pressionadas pela inflação e pelo estímulo ao consumo, poupam menos.
O cenário coloca o Brasil ainda mais distante dos níveis de poupança registrados por economias emergentes e desenvolvidas, levantando preocupações sobre o financiamento de investimentos futuros.
Fatores que explicam a queda
Especialistas apontam que o principal fator para a baixa taxa de poupança nacional é a falta de equilíbrio fiscal. Segundo o economista Alexandre Espírito Santo, da Way Investimentos, o governo mantém déficits crescentes e recorre à “importação de poupança” – ou seja, busca capital externo para equilibrar suas contas. Isso ocorre por meio de investimentos estrangeiros e operações no mercado financeiro, o que gera dependência de fluxos internacionais.
Outro ponto crucial é a falta de investimentos estratégicos. Em vez de utilizar os recursos captados para impulsionar infraestrutura e produção, grande parte é destinada ao pagamento de juros da dívida pública. Isso limita o crescimento sustentável do país e impede a criação de um ambiente econômico propício à poupança interna.
Consumo das famílias
Além da gestão pública, o comportamento das famílias brasileiras contribui para a queda da poupança. O alto consumo impulsionado pelo crédito disponível e pelos programas de transferência de renda mantém a economia aquecida, mas dificulta a criação de reservas financeiras. Segundo Rebeca Palis, do IBGE, o consumo das famílias foi o maior responsável pelo crescimento de 3,4% do PIB em 2024.
A inflação elevada também impacta diretamente a poupança. Para grande parte da população, especialmente os mais pobres, a necessidade de manter o padrão de vida leva ao esgotamento das economias. Isso gera um cenário no qual o consumo cresce desproporcionalmente à renda, reduzindo ainda mais a capacidade de poupança.
Brasil se distancia de outras economias
Comparado a países asiáticos, o Brasil apresenta uma taxa de poupança muito inferior. Na China, por exemplo, a taxa chega a 40% do PIB, enquanto em outras economias emergentes esse índice gira em torno de 30%.
Segundo o economista Armando Castelar, da FGV/Ibre, essa diferença está relacionada a escolhas sociais e políticas econômicas. Em países com altas taxas de poupança, há maior controle dos gastos públicos e incentivo ao investimento interno, permitindo um crescimento mais sustentável.
A pandemia da Covid-19 também teve um papel relevante no comportamento da poupança brasileira. Durante o período de isolamento, muitas famílias aumentaram suas reservas devido à incerteza econômica. No entanto, nos anos seguintes, esses recursos foram rapidamente consumidos, reduzindo a taxa de poupança para níveis historicamente baixos.
Perspectivas e desafios para o futuro
Para reverter esse quadro, economistas apontam a necessidade de reformas estruturais que incentivem a poupança pública e privada. O governo precisaria adotar medidas para reduzir gastos excessivos, controlar déficits e direcionar recursos para investimentos produtivos, como infraestrutura e inovação.
A recuperação da taxa de poupança no Brasil depende, portanto, de uma mudança na gestão fiscal e de uma conscientização da população sobre a importância de economizar. Sem essas ações, o país continuará dependente do capital externo e vulnerável a oscilações no mercado global.