Condições de trabalho insalubres

BYD tem denúncias de maus-tratos e violência em construção de fábrica no Brasil

BYD tem denúncias de maus-tratos e violência em construção de fábrica no Brasil
  • Cerca de 500 trabalhadores chineses vivem em condições insalubres, com alojamentos sujos e superlotados, e sem separação entre homens e mulheres
  • Operários trabalham 12 horas por dia, sem intervalos adequados e sem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), colocando suas vidas em risco
  • Denúncias apontam agressões físicas, como socos e pontapés, aplicadas por mestres de obras para forçar o cumprimento das ordens
  • A BYD, responsável pela obra, ainda não se manifestou oficialmente sobre as acusações, levantando dúvidas sobre a fiscalização das condições de trabalho

Há pouco mais de um mês, a cidade de Camaçari, na Bahia, foi palco de uma grande movimentação industrial com a instalação da fábrica da BYD, maior fabricante de carros elétricos da China. O projeto, que promete ser um marco para a indústria automobilística brasileira, prevê a construção de 26 novas instalações e uma área de cerca de 1 milhão de metros quadrados, com o objetivo de se tornar a maior unidade produtora de carros elétricos do país. A inauguração completa está prevista para 2025.

No entanto, por trás da grande promessa de desenvolvimento e inovação, surgem denúncias gravíssimas sobre condições de trabalho em seu canteiro de obras. De acordo com uma investigação da Agência Pública, cerca de 500 trabalhadores chineses, contratados por empresas subcontratadas pela BYD, estariam vivendo e trabalhando em condições desumanas.

As denúncias envolvem abusos físicos, condições de alojamento precárias, jornadas extenuantes e falta de equipamentos de proteção, revelando uma realidade bem distante daquilo que se espera de uma operação moderna e tecnologicamente avançada.

A realidade no canteiro de obras

Os relatos são de funcionários submetidos a jornadas de 12 horas diárias, de domingo a domingo, sem o devido descanso. Além disso, muitos operários eram forçados a trabalhar sem os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) necessários, colocando suas vidas em risco.

A situação é ainda mais agravada pelo fato de que os alojamentos onde esses trabalhadores chineses eram hospedados em locais precários, sujos e superlotados, sem separação entre homens e mulheres, sem luz adequada e com banheiros imundos.

Uma das condições mais indignantes relatadas pelos operários foi a falta de acesso a água potável, com trabalhadores sendo forçados a beber água salobra das poças formadas no canteiro.

Além disso, alguns eram obrigados a trabalhar descalços, em total descumprimento das normas de segurança. Imagens e vídeos que circulam na internet mostram cenas chocantes de trabalhadores sendo agredidos fisicamente por supervisores, que usavam violência como forma de disciplinar a equipe.

As agressões físicas, como socos e pontapés, eram comuns quando algum operário não cumpria as ordens dos mestres de obras.

A responsabilidade das empresas subcontratadas

A investigação da Agência Pública revela que a BYD contratou, por meio de empresas intermediárias, uma força de trabalho de 470 operários chineses. As principais empresas responsáveis pela construção da fábrica são a Open Steel, que cuida da montagem da estrutura metálica, e a AE Corp., encarregada da montagem interna da estrutura da fábrica.

No entanto, as condições mais degradantes de trabalho envolvem, sobretudo, os trabalhadores da Jinjiang Group, outra empresa chinesa contratada para a obra.

A empresa trouxe esses operários ao Brasil para colaborar com a construção de uma fábrica de carros do futuro, mas os colocou em condições de trabalho precárias.

As imagens que circulam nas redes sociais e as denúncias feitas por trabalhadores ouvidos sob sigilo são um reflexo claro da negligência das empresas responsáveis pela obra e da falta de fiscalização por parte das autoridades brasileiras.

As agressões e a violência no local de trabalho

Os relatos de violência são particularmente chocantes. Em um dos episódios mais graves, registrado no dia 9 de outubro, um trabalhador chinês foi filmado caído no chão após, supostamente, ter recebido um chute nas costas de um mestre de obras. Segundo trabalhadores que estavam presentes, essa violência física seria uma prática comum para disciplinar os operários, principalmente em situações de descumprimento de ordens.

Esses abusos geraram uma onda de indignação, e as imagens rapidamente se espalharam pela internet, ampliando a visibilidade do que estava acontecendo no canteiro de obras da BYD.

O Silêncio da Empresa e as Consequências

Até o momento, a empresa BYD não se manifestou de forma clara sobre as denúncias. Esse silêncio da gigante chinesa diante dos relatos de exploração e abusos levanta questões sobre a responsabilidade das empresas estrangeiras que operam no Brasil e a fiscalização do trabalho em condições ilegais.

A situação se torna ainda mais preocupante porque a empresa constrói uma fábrica de carros elétricos, um setor que deveria representar inovação e progresso, mas que, no caso de Camaçari, simboliza retrocesso social e humano.

O caso também chama atenção para a falta de fiscalização do governo brasileiro e das autoridades trabalhistas.